Inocentada, a senadora Gleisi Hoffmann comenta a decisão do
Supremo Tribunal Federal: “Quando se julga com base no direito, na lei e nos
autos, a verdade sempre vence”. Leia a íntegra.
Gleisi Hoffmann: “Vitória da
verdade e da democracia”
Gleisi
Hoffmann*
O
julgamento de ontem na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal foi de enorme
relevância para o restabelecimento do estado de direito no Brasil. Fui julgada
e absolvida, por unanimidade, das falsas acusações que me imputaram. Mas foi
principalmente um avanço em direção à normalidade democrática, frente à máquina
de perseguição e arbítrio instalada desde 2014 na Vara Federal da Lava Jato.
Creio
que pela primeira vez, diante de um caso concreto, o STF se pronunciou
colegiadamente contra a indústria das delações premiadas e contra os abusos do
Ministério Público da Lava Jato. A denúncia ruiu perante os juízes porque não
trazia prova de nada, apenas delações negociadas com presos condenados, em
troca de perdão de seus crimes.
No meu
caso e do meu marido, Paulo Bernardo, eram delações contraditórias, que foram
sendo modificadas no curso do processo para compor a narrativa perseguida pelos
promotores. O julgamento expôs as sucessivas violações praticadas em Curitiba,
e endossadas pela PGR, que não poderiam ser aceitas à luz da lei e da justiça.
Dos
cinco votos proferidos restou claro que ninguém, nenhum cidadão ou cidadã, pode
ser condenado apenas com base em depoimentos (negociados sabe-se lá a que
preço) que não sejam acompanhados de provas. Dessa forma, o direito prevaleceu
sobre o arbítrio, a verdade sobre a mentira, quando íamos nos habituando ao
contrário.
Durante
quase quatro anos, desde outubro de 2014, a TV Globo e os grandes jornais
repetiram sistematicamente que eu era acusada de corrupção e lavagem de
dinheiro, repetiram o enredo forjado pela Lava Jato. E nunca, até a véspera do
julgamento, nunca informaram os argumentos concretos da minha defesa. Nem uma
só palavra.
É o
mesmo método autoritário de julgamento midiático, de acobertamento da
injustiça, que levou à prisão ilegal e arbitrária do maior líder político e
popular do Brasil, o ex-presidente Lula. É o método que levou ao golpe do
impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016.
Ao
longo desses quase quatro anos, meu nome deixou de ser Gleisi Helena Hoffmann.
Passei a ser chamada de Gleisi Hoffmann, investigada na Lava Jato, Gleisi
acusada, Gleisi indiciada, Gleisi denunciada, Gleisi ré. Alguém escreverá agora
Gleisi inocente?
Já
disse que nada vai apagar o sofrimento causado a mim, a minha família, meus
amigos e companheiros de luta. Nada vai reparar o dano causado a minha imagem
pessoal e política. Mas a decisão de ontem me anima a continuar acreditando
que, quando se julga com base no direito, na lei e nos autos, a verdade sempre
vence.
Agradeço
a todos os que foram solidários ao longo desse processo: a imprensa
independente, os juristas que se pronunciaram em artigos, líderes políticos de
vários partidos e principalmente a militância do PT, que sempre me deu energias
para seguir lutando de cabeça erguida.
Há
outras batalhas pela frente e vamos enfrentá-las, confiando que o Brasil vai
retomar o estado de direito na plenitude. E vai retomar o caminho da democracia
para acabar com o sofrimento do povo.
*Gleisi Hoffmann,
senadora e presidenta nacional do PT.
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