Estamos a poucos dias da
estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo e o silêncio, apatia e a
ausência do verde e amarelo pelas ruas do país é a tônica que reflete o triste
momento que vivemos. Até o golpe de 2016, as Copas do Mundo eram experiências marcantes,
comoventes e que deixam fortes lembranças nas pessoas.
Quem
aqui, tendo assistido a Copa de 82, não chorou com a derrota para a Itália e a
eliminação de uma das mais brilhantes gerações do futebol do brasileiro? Muitos
se recordam, inclusive, do local onde assistiram aos jogos. A seleção e a Copa
de 82 marcaram profundamente a história de muitos brasileiros e o estádio do
Sarriá se tornou um nome que ainda nos comove. Guardiola, o mais inovador
técnico de futebol dos últimos tempos, não somente assistiu como ainda assiste,
aos jogos daquela seleção e a tem como modelo técnico e tático.
Da
mesma forma, a Copa de 70 e a de 86 com Brasil sendo eliminado pela França nos
pênaltis. E essas experiências não são apenas pelo futebol em si, mas comovem
também e, principalmente, pela confraternização, amizade e junção de milhões de
brasileiros conectados por um time de futebol.
Muitas
gerações guardaram na memória a tragédia de 1950 e muitas ainda se lembrarão,
por muitos anos, dos 7 a 1 na Copa de 14. Mas, essa mística em torno da seleção
canarinho tem se perdido, infelizmente. A goumertização dos estádios, fenômeno
denunciado com propriedade por jornalistas do porte de Mauro Cezar da ESPN,
afastam cada vez mais os pobres das arquibancadas. Os talentos são vendidos com
idades cada vez menores, nem sequer podem propiciar aos torcedores dos times,
momentos de encanto, magia e deleite.
Os
altos preços cobrados pelas camisas e o fosso sem fim de esquemas de corrupção
pelo qual se vê envolvida a CBF contribuem para essa apatia. A CBF e Globo só
são investigados no exterior. Aqui, no Brasil, gozam de foro muito mais que
privilegiado.
Para
essas duas organizações privadas vigora a mais completa e absoluta imunidade,
apesar de inúmeras denúncias de brasileiros do porte de Juca Kfouri e de outros
amantes do futebol que sonham e se indignam com o descalabro da administração
do futebol no Brasil. Eu mesmo denunciei ao ministério público os esquemas que
envolvem Globo e as propinas da CBF, mas até agora não obtive nenhuma resposta.
Outro fator, talvez decisivo para essa melancolia pré-Copa do Mundo, é o golpe
de 2016.
Quem
não se lembra de patéticos personagens como Luciano Huck, Ronaldo, Aécio e
Jucá, todos de camisa da nike, com o logo da CBF a defender o golpe e a
retirada de direitos. A camisa da CBF/Nike se tornou um símbolo do fascismo e
do ódio. E o reflexo se vê nas ruas. A magia do verde e amarelo deu lugar à
normalidade incolor de um Brasil goleado pelo neoliberalismo e assaltado por
uma quadrilha de políticos atendendo a interesses privados, sem qualquer
respeito pelos direitos do povo brasileiro.
Vou
torcer pelo Brasil porque sou amante do futebol, mas é importante cobrar essa
fatura desses irresponsáveis que jogaram o Brasil ladeira abaixo. Depois de
acabar com o valor do voto, com os direitos trabalhistas, congelarem investimentos
na saúde e educação, entregar o patrimônio nacional aos interesses privados,
ainda tentam acabar com umas das maiores alegrias do brasileiro que é a de
torcer pela seleção. Mas, tenho certeza que vamos virar esse jogo e que Lula
sairá da prisão para colocar o Brasil nos trilhos, recuperar o orgulho e a
autoestima de ser brasileiro.
O
futebol é pedagógico e nos traz lições para a luta de classes. Surpreendente e
apaixonante como a política, estratégia e tática, sonho e desilusão, alegria e
tristeza. O futebol é a metáfora da própria vida.
Wadih Damous - Deputado
federal pelo PT/RJ e ex-presidente da OAB/RJ
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