Em debate realizado no Rio de Janeiro, analistas da área de engenharia e
petróleo mostram que governo Temer e gestão de Pedro Parente nada mais fizeram
do que implementar políticas de alto interesse de Washington
Temer assumiu agenda das multinacionais do petróleo e ativos da Petrobras começaram a mudar de mãos |
São Paulo – A
construção, pela mídia, do mito da Petrobras financeiramente quebrada, as
consequências do alinhamento da estatal aos interesses do mercado e,
principalmente, dos Estados Unidos, e a greve dos caminhoneiros foram alguns
dos temas debatidos no seminário "O mito da Petrobras quebrada, política
de preços e suas consequências para o Brasil" na noite desta terça-feira.
Promovido pela Associação dos Engenheiros
da Petrobras (Aepet) e o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, o
evento teve a participação do economista aposentado da estatal Cláudio
Oliveira, do presidente da Aepet, Felipe Coutinho, e do especialista em Minas e
Energia e Engenharia do petróleo Paulo César Ribeiro Lima.
"A Petrobras não tem nem nunca teve
problema financeiro", enfatizou Oliveira em sua exposição. Enquanto os
saldos de caixa das norte-americanas Chevron e Exxon, por exemplo, estão caindo
(são de 4,81 e 3,20 bilhões de dólares, respectivamente, em 2017) o da
Petrobras, embora também em curva descendente, estava em 22,52 bilhões de
dólares no mesmo ano.
"Eles dizem que vendem ativos para
saldar dívida. Com 22 bilhões de dólares em caixa, essa é a empresa que eles
dizem que está quebrada?", questionou. Para o economista, dizer que a
estatal tem uma dívida impagável serve "só para justificar a venda de
ativos e desmonte da Petrobras".
O presidente da Aepet, Felipe Coutinho,
fez uma exposição dividida entre uma abordagem econômica e política. O mito de
Petrobras quebrada graças a subsídios, corrupção e maus investimentos, disse,
embasou toda a política desenvolvida a partir da posse de Michel Temer e a politica de preços que
desencadeou a greve dos caminhoneiros. "Os números têm que ser discutidos
fora da mitologia da mídia. As impressões vão construindo o senso comum com
interesses claros contra a Petrobras e antinacionais, coerentes com os meios de
comunicação."
A política de alinhamento aos preços do
mercado internacional viabilizou a importação por parte de concorrentes,
principalmente dos Estados Unidos, segundo ele. "Ganham os produtores
norte-americanos, os importadores, e perdem os consumidores, a Petrobras,
porque perde mercado, a União e os Estados."
A política implementada pelo ex-presidente
da Petrobras Pedro Parente é baseada no princípio "The America
first", ironizou Coutinho, em alusão ao bordão utilizado pelo presidente dos
EUA Donald Trump, durante sua campanha eleitoral em 2016, quando
prometeu, se eleito, voltar o governo aos interesses de seu país.
"O aumento relativo dos preços da
Petrobras viabiliza a importação de derivados por seus concorrentes que ocupam
o mercado da estatal, que fica com suas refinarias ociosas."
Segundo Coutinho, em 2015, o Brasil
importou 2,5 milhões de toneladas (Mt) de diesel dos EUA, o que representou 41%
do total e 1,4 bilhão de dólares. Em 2017, a importação subiu para 8,9 Mt de
diesel e US$ 4,5 bilhões. De 2015 a 2017, o diesel americano quase dobrou sua
participação, de 41% para 80,4% do total importado pelo Brasil.
Paulo Cesar Ribeiro Lima foi aplaudido ao
dizer que "o pré-sal tinha que ser monopólio". Considerando que o
Brasil é rico em petróleo, mão de obra e tecnologia, "a crise é fabricação
de mentes doentias", afirmou.
Segundo ele, na gestão Parente, o
brasileiro pagou 40% mais caro no preço do diesel do que o consumidor
americano, sem considerar os impostos. "É realmente inacreditável."
"É até possível fazer uma politica de direita bem feita. Mas essa é mal
feita", avaliou. De acordo com ele, a sistemática que permitia aumentos
até diários dos combustíveis é o emblema da política mal feita.
Para Coutinho, com a solução encontrada
pelo governo Temer contra a crise, subsidiando a diminuição do preço do diesel
via impostos regressivos, os importadores saem diretamente beneficiados. A
Petrobras deveria arbitrar preços justos compatíveis com seus custos,
beneficiando o consumidor, defendeu. Com isso, a estatal recuperaria o mercado
perdido e os preços mais baixos favoreceriam o consumidor, gerando mais caixa à
Petrobras.
Em sua exposição, Felipe Coutinho enumerou
uma série de "fatos relevantes" que, cronologicamente, mostrariam a
relação entre o golpe que derrubou Dilma Rousseff e a política da gestão
Parente na Petrobras em benefício dos Estados Unidos.
Entre eles, o treinamento de agentes
judiciais brasileiros nos EUA, revelado por documento interno do governo
norte-americano e vazado pelo WikiLeaks. Teriam participado promotores e juízes
federais dos 26 estados brasileiros e 50 policiais federais de todo o país.
Esses fatos se sucederam, segundo ele, da
seguinte maneira:
1 – Anúncio da descoberta do pré-sal, em
2006 (ainda no governo Lula)
2 – Primeira extração do pré-sal, no campo
de Tupi, atual Lula (novembro de 2017)
3 – Roubo de notebooks e HDs da Petrobras
(janeiro de 2008)
4 – Reativação da Quarta Frota dos EUA
(abril de 2008)
5 – Governo anuncia projeto de regime de
partilha do pré-sal (agosto de 2009)
6 – EUA treinam agentes judiciais
brasileiros (outubro de 2009)
7 – Reunião de executiva da Chevron (Patricia Pradal) no
consulado dos EUA sobre a reversão da Lei da Partilha (dezembro de 2009)
8 – Protestos de junho de 2013
9 – Brasil e Petrobras são alvos de
espionagem dos EUA (2013)
10 – Operação Lava Jato e "cooperação
internacional" (março de 2014)
11 – Golpe do impeachment de Dilma
Rousseff (maio de 2016)
12 – Temer assume agenda das
multinacionais do petróleo (a partir da maio de 2016)
13 – Nova política de preços da Petrobras,
exportação de petróleo cru, importação de derivados e ociosidade do refino no
Brasil (desde outubro de 2016)
14 – "Parcerias estratégicas", o
novo codinome da privatização dos ativos da Petrobras (desde 2016)
15 – Pagamento de US$ 2,95 bilhões aos
acionistas da Petrobras nos EUA (janeiro de 2018)
16 – Pré-sal representa mais de 50% da
produção brasileira de petróleo (2018)
Fonte:
RBA
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