O "sonho dourado" dos golpistas virou pesadelo; o Valor Econômico, jornal oficial do
"mercado", jogou a toalha e admite que a promessa de crescimento
econômico virou pó; O Estado de S.Paulo estampou em
sua manchete: "BC intervém e gasta US$ 5 bi, mas dólar vai a RS
3,80", reconhecendo que a gestão saudada pela direita está queimando
loucamente as reservas do país
247 - O
"sonho dourado" dos golpistas virou pesadelo. O Valor
Econômico, jornal oficial do "mercado", jogou a toalha
hoje, num texto de sua diretora-adjunta de redação, Cláudia Safatle. "A
expectativa de crescimento da economia se esvai", começa seu artigo, que
espanta-se com a queda das projeções do mesmo "mercado" de
crescimento do PIB em 2018 de 3% para irrisório 1%. E já aponta para o cenário
de um "duplo mergulho" do país na recessão: "a prudência
recomenda não descartar de pronto o risco dessa tragédia". Enquanto
isso, um dos mais dogmáticos e radicais insufladores e apoiadores do golpe e de
Temer, o jornal O
Estado de S.Paulo, estampou em sua manchete hoje: "BC intervém
e gasta US$ 5 bi, mas dólar vai a RS 3,80" - a gestão do Banco Central
saudada pela direita como a mais competente do século está queimando loucamente
as reservas do país, sem conseguir afastar o fantasma da crise cambial.
É uma
reversão completa em toda a falsa narrativa das mídias, economistas, analistas
e jornalistas econômicos entusiastas do golpe, que garantiam: uma vez derrubada
Dilma, o país iria como um foguete ao paraíso econômico. Safatle, surfando na
onda da campanha contra os governos do PT, chegou a lançar um livro sob o
título "Anatomia de um desastre - os bastidores da crise econômica que
mergulhou o país na pior recessão da história". O objetivo do livro esta
atacar os governos Lula e Dilma e desmoralizar as políticas
desenvolvimentistas, alardeando as virtudes do neoliberalismo e do financismo.
Agora deu nisso.
No
artigo, o desalento com o fiasco das candidaturas do golpe (chamadas de
"centro") às eleições de 2018 é patente: "Na política, olhando
as pesquisas eleitorais anteriores e posteriores à greve dos caminhoneiros, o
quadro não é muito diferente. Mas, no mercado, só agora 'a ficha caiu', segundo
disse Arminio Fraga, mostrando a dificuldade de o centro se articular em torno
de uma candidatura para neutralizar os extremos.
Vale a
pena ler a íntegra do artigo, relato do fracasso da aventura neoliberal do
golpe. O texto é esquizofrênico porque ao mesmo tempo que constata o fracasso
do "remédio", pede que sejam ministradas doses ainda mais altas ao
paciente:
A
expectativa de crescimento da economia se esvai. O ano começou com projeções de
expansão de 3% do PIB. Hoje as estimativas convergem para o patamar de 1%.
Depois de bons indicadores de atividade em abril já se esperava uma piora em
maio. Como a coleta de dados se concentra nas três primeiras semanas, ainda não
refletirá a greve dos caminhoneiros.
A
pergunta, agora, é o quanto a greve, que por dez dias paralisou o país, vai
derrubar o crescimento em junho, comprometendo o desempenho do segundo
trimestre. E, mais ainda, o quanto a crise que começou com os caminhoneiros e
antecipou o mau humor aguardado para as vésperas das eleições - com forte
deterioração dos preços dos ativos nas últimas semanas - pode azedar o ambiente
econômico dos próximos trimestres.
É
prematuro falar em um duplo mergulho ("double dip") do país na
recessão. Mas a prudência recomenda não descartar de pronto o risco dessa
tragédia.
A
economista Sílvia Matos, coordenadora do boletim Macro do Ibre-FGV, alerta para
os prováveis efeitos secundários da paralisação dos transportes no país, com
impactos microeconômicos. Uma questão a ser respondida, por exemplo, é se a
indústria reduziu os seus pedidos em junho. É importante saber, também, o
quanto dos efeitos da greve na atividade serão permanentes.
A
última estimativa que ela fez para o PIB deste ano é 1,9%, mas quando for rever
os dados, poderá chegar a algo como 1,3%. O pior cenário que a economista
considera nos seus prognósticos é o de uma estagnação do produto. Para que
ocorra o duplo mergulho, a piora tem que ser muito grande, diz Sílvia Matos.
Não é impossível, mas hoje parece improvável.
Desde a
saída da recessão o país cresce apenas 0,5% por trimestre, compatível com a
variação de 1,9% do PIB anual. Nesse ritmo, a economia levará mais três anos
para voltar ao patamar pré-crise.
Ao se
embaralhar com as eleições, a greve acabou com os resquícios de autoridade do
governo Temer, que perdeu o presidente da Petrobras e vê a empresa novamente se
desmilinguir e, de quebra, ainda se meteu na armadilha do tabelamento dos
fretes.
Antes
desses eventos, o país já se defrontava com a mudança do cenário externo, dado
pela política monetária do Federal Reserve Bank (Fed), que prenunciava o fim do
interregno benigno que estimulou as economias emergentes.
O
Brasil - "país que não perde a oportunidade de perder oportunidades",
como costumava dizer Roberto Campos - deixou passar o período de juros muito
baixos nos Estados Unidos e não fez os deveres de casa, a começar da reforma da
Previdência.
Os
sinais emitidos pelo Fed desde o início do ano respondem majoritariamente pelas
desvalorizações do real frente ao dólar até o fim de maio. De lá para cá, o
peso da depreciação cambial decorre de fatores internos.
Dos candidatos, se espera programa, e não bravatas
Na
política, olhando as pesquisas eleitorais anteriores e posteriores à greve dos
caminhoneiros, o quadro não é muito diferente. Mas, no mercado, só agora
"a ficha caiu", segundo disse Arminio Fraga, mostrando a dificuldade
de o centro se articular em torno de uma candidatura para neutralizar os
extremos.
O fato
é que o mau humor se instalou nos mercados de juros, ações e câmbio. A taxa de
juros, desde então, só sobe: o DI - janeiro de 2020, que pagava 6,99% ao ano no
início de maio, ontem avançou para 9,44% ao ano. A bolsa, que em meados de maio
havia atingido pouco mais de 86 mil pontos, ontem patinava em 71 mil pontos.
O
dólar, que iniciou o mês de março cotado a R$ 3,25, ontem custava R$ 3,81, a
despeito das intervenções do Banco Central.
Diante
da piora dos mercados e do cenário eleitoral inalterado, as expectativas vão se
deteriorando. A última pesquisa Focus, do BC, elevou para 3,82% a inflação do
ano, um aumento importante se comparado com os 3,49% do início de maio. A
performance para o PIB também perdeu força, caindo de 2,70% no início do mês
passado para 1,94% na pesquisa mais recente.
A cena
atual nos remete a 2002, quando os candidatos assistiram à disparada do dólar,
o aumento dos juros e a aceleração da inflação, que atingiu 12, 53%. Tal
deterioração ocorreu mesmo após a divulgação da Carta aos Brasileiros pelo
candidato do PT, Lula, em junho de 2002 e com a costura, pela equipe de FHC, de
um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) de US$ 30 bilhões. O país
não tinha reservas e o acordo daria algum conforto a quem fosse eleito
presidente da República.
Agora o
país tem reservas da ordem de US$ 380 bilhões, mas ao contrário de 2002, está
com as contas públicas em frangalhos. Em bom português, o Estado está quebrado.
Para honrar a dívida, o governo precisa de reformas e a da Previdência lidera a
lista de prioridades.
Os
pré-candidatos a presidente não disseram a que vieram. Apostar no caos é um
tiro no pé, pois quanto pior a situação mais difícil será o exercício do
governo de quem vencer as eleições. Cedo ou tarde os candidatos terão que expor
os seus programas de governo.
Se não
há interlocutores para patrocinar uma transição civilizada, é bom que se
apressem a melhorar o discurso com maturidade e sem bravatas.
O artigo pode ser lido no
original aqui.
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