Texto publicado na RBA.
Tradicionalmente, a
camiseta amarela da seleção brasileira sempre foi o item mais vendido entre os
produtos lançados tendo a Copa do Mundo como tema. Mas para a Copa da Rússia,
que começa nesta quinta (15), o cenário se alterou. Segundo lojistas e
ambulantes ouvidos pela RBA, apesar de as vendas serem “satisfatórias”, é a
camisa do uniforme número dois da Seleção, a “azulzinha”, que ganhou a
preferência dos torcedores para acompanhar os jogos do time brasileiro – que
estreia pelo grupo E do torneio, no domingo (17), às 15h, contra a Suíça.
A principal razão
apontada pela queda do interesse na tradicional “amarelinha” é ela ter virado
“uniforme” nas manifestações pró-impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, a
partir de 2014. Transformada em símbolo de apoio ao golpe que derrubou a
presidenta em 2016, atraiu rejeição por grande parte dos demais brasileiros.
“Tá chegando a Copa e eu não vejo ninguém com a camisa do Brasil. Essa camisa
virou sinônimo de filho da puta, de golpista”, disse o cantor João Gordo, do
Ratos do Porão, durante apresentação na Virada Cultural paulistana do mês
passado.
Em entrevista à
revista Época, o escritor Marcelo Rubens Paiva afirmou que jogou fora todas
suas camisetas do Brasil, por causa da lembrança política que elas trazem. “Não
dá para vestir a camisa da Seleção, que virou símbolo de uma massa de manobra
comandada por golpistas”, diz ele acrescentando que torcerá na Copa com o
uniforme do Corinthians.
A RBA entrou em
contato com lojas físicas da rede Centauro, especializada em materiais
esportivos, e a resposta foi unânime: a camiseta azul é a mais vendida e está
até esgotada em algumas unidades. “Geralmente, o que vem em maior quantidade é
a amarela, mas a saída da azul é muito boa”, conta uma supervisora, que pede
para manter seu nome em sigilo, em respeito a normas internas da empresa.
Os dados de outra
rede de lojas do setor, a Netshoes (que só opera pela internet), também mostram
a preferência do torcedor pelo segundo uniforme, que vem registrando procura
20% maior que a “concorrente” amarela.
As camisas oficiais
usadas pela Seleção chegam ao consumidor pelo preço de R$ 450. Uma versão mais
simples é vendida por R$ 249,90. Se o torcedor quiser montar um kit com meião e
calção o valor chega a R$ 650.
A reportagem também foi à Rua 25 de Março, famosa pela concentração de
vendedores ambulantes, os camelôs, no centro de São Paulo. No local, até porque
as peças não são originais, os preços praticados são bem mais baixos – variam
entre R$ 25 e R$ 65 – , e a agora cobiçada camiseta azul da Seleção também está
em falta.
O supervisor de
vendas Rafael Ferreira parou na barraca do camelô Edvan e levou sua camisa. “É
mais chamativo. Não que a amarela seja ruim, mas a azul é muito bonita”, diz
ele. “Está saindo bastante camiseta azul, se não vier comprar logo, acaba. As
vendas (da azul) aumentaram, comparado a 2014”, acrescenta o vendedor.
Com três sacolas
cheias das “azulzinhas”, o técnico em celulares Tadeu Freitas explica
genericamente sua preferência. “O pessoal está pedindo mais, querem algo
diferente.”
Alguns comerciantes
relatam que a baixa procura pela versão amarela fez baixar seu preço, o que
ainda lhe garante algumas vendas. “A principal vende mais porque a azul está
mais cara, já que a procura é grande”, diz Dodô, que também trabalha na 25 de
Março.
Queda no consumo
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC), para a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, 50% das famílias
tiveram interesse em comprar itens relacionados com a Seleção Brasileira e o
Mundial. Já neste ano, o percentual caiu para 24%. A procura por peças de
vestuário desperta interesse em apenas 7,5% das famílias e por aparelhos de
televisão, em 4,3% delas.
Em entrevista à
Radioagência Nacional, o chefe da Divisão Econômica da CNC, Fabio Bentes, diz
que o desemprego é um dos motivadores do índice baixo, já que o desemprego em
2014 era de 7,1%, contra 12,9% medido agora, segundo o IBGE.
“Outro fator que
também ajuda, principalmente na compra de televisores, que é o carro chefe na
movimentação financeira, há o comportamento do crédito, já que a taxa de juros
está em 55% ao ano. Soma-se a isso o fato de o evento ser do outro lado do
mundo. É normal que as famílias acabem menos empolgadas”, disse.
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