domingo, 20 de maio de 2018

Tite entra na guerra semiótica para fazer Brasil esquecer o golpe


"No vídeo do Itaú, agora as ruas estão vazias. A torcida foi para o estádio. Os rostos agora estão limpos. Sem mais a maquiagem dos cara pintadas que dominava as campanhas de 2014. Mas se as ruas foram pacificadas, agora precisa-se conquistar os corações e mentes com o ideário mérito-empreendedor. Nada melhor do que um misto de personal coaching e pastor motivacional: o técnico da seleção Tite", explica o professor Wilson Ferreira
Por Wilson Ferreira, no Cinegnose– Para quem ainda duvida e acha que guerra híbrida e bombas semióticas não passam de "teoria da conspiração", uma simples comparação entre as peças publicitárias que promoviam a Copa de 2014 e a desse ano, na Rússia, põe fim a qualquer dúvida: enquanto a Copa no Brasil foi dominada por criações publicitárias para lá de polissêmicas (ambiguidade entre festa e agressividade, alegria e raiva, em consonância com a pesada atmosfera das manifestações do "Não Vai Ter Copa!" + Lava Jato), nesse ano a publicidade é bem diferente: uníssona e assertiva - a Nação deve ficar unida, esquecer as diferenças e torcer pela Seleção. Em 2018 a Guerra Semiótica veste as chuteiras cumprindo duas funções: a primeira política, pacificar as ruas com a ideia de união e nação; e no campo ideológico, enfiar goela abaixo da choldra as preleções de Tite, misto de "coaching" e pastor motivacional. Para nos fazer acreditar que desemprego não é crise. É oportunidade para virarmos todos empreendedores. Mas, e se algo sair fora do script? Então teremos um "Plano B" cujos balões de ensaio já estão sendo lançados.
Visto em perspectiva, a intervenção norte-americana no Brasil por meio da estratégia de guerra híbrida (guerra semiótica implementada pelo complexo jurídico-policial-midiático com apoio logístico e de inteligência dos EUA) teve dois propósitos bem definidos: primeiro, o golpe político - o impeachment, nova modalidade de golpe sem mais traumáticas imagens de tanques de guerra cercando o Congresso ou um presidente com quepe estrelado discursando para a TV, e a inviabilização de um candidato de esquerda por meio da pesada artilharia do chamado "lawfare".
E segundo, a conquista dos corações e mentes: fazer a choldra, que olha para tudo até agora bestializada, acreditar na ideologia do mérito-empreendedorismo da nova ordem neoliberal imposta ao País – diante da perda das garantias trabalhistas e sociais e por meio de pitacos ideológico-motivacionais, incutir nas massas a fé de que, daqui em diante, é cada um por si pelo próprio mérito e esforço empreendedor. E o salto de fé de que, um dia, a força de trabalho magicamente se converterá em capital.
Da mesma forma como na Copa do Mundo de futebol de 1970 (em pleno início do golpe militar e dos anos de chumbo de perseguições e tortura), na qual a ordem militar calçou as chuteiras dos "90 milhões em ação, prá frente Brasil!", também o atual golpe político que promove a guerra semiótica também calça suas chuteiras.
Neste momento, a palavra de ordem é mostrar uma nação unida, brasileiros "com muito orgulho e com muito amor", entusiasmo, felicidade e inspiração. E muitos pitacos motivacionais do técnico Tite em vídeos publicitários do banco Itaú.
Para aqueles que ainda duvidam sobre estarmos em plena guerra semiótica ou de que o País continua alvo de uma guerra híbrida cuja logística poderá colocar em xeque as eleições desse ano (se as coisas nãos seguirem o script previsto pela banca), uma prova é fazer um comparativo das campanhas publicitárias de duas copas do mundo de futebol: a de 2014 e a desse ano.
Lá em 2014 vivíamos o auge de uma pesada guerra semiótica que pretendia desestabilizar o governo Dilma Rousseff (o clima do "não vai ter Copa" + Lava Jato).
E agora em 2018, a luta midiática pela estabilização da Nova Ordem - Lula preso, a inviabilização de um candidato de esquerda (só esperam a definição do candidato para a artilharia lawfare ser acionada) e a catequização diária dos valores do mérito-empreendedorismo para a massa de desempregados e aqueles inseguros com o emprego que ainda possuem.
Em 2014, as campanhas publicitárias eram polissêmicas, ambíguas, explorando um duplo sentido: entre o tradicional ufanismo da pátria de chuteiras e a incitação das mobilizações de rua do "Não Vai Ter Copa!" e contra o governo federal.
Bem diferente, hoje vemos um clima publicitário semioticamente unívoco, assertivo, com um único sentido: a necessidade da Nação ficar unida, esquecer as diferenças e torcer pela Seleção. Um incômodo déjà vu que lembra as amargas atmosferas do anos de chumbo das copas de 1970, 1974 e 1978 – cuja Seleção chegou até a contar como um técnico militar, Cláudio Coutinho, capitão que se graduou na Escola de Educação Física do Exército.
Não foi por acaso que, assim como o juiz Sérgio Moro (arma do lawfare da atual guerra híbrida), Coutinho fez cursos nos EUA. A diferença é que foi na área de preparação física com Kenneth Cooper (idealizador do famoso método de avaliação física), chegando a frequentar o Laboratório de Estresse Humano da NASA – afinal, o futebol fez parte do aparato ideológico dos governos militares.
A campanha polissêmica da Copa de 2014
Olhando em conjunto anúncios e vídeos publicitários é nítida a intenção polissêmica das criações que antecederam a Copa do Mundo no Brasil: um misto de festa e agressividade, alegria e raiva. E torcidas que ora parecem as tradicionais torcidas organizadas de futebol, ora manifestantes que saem às ruas para protestar.
E tudo é reforçado com alusões aos icônicos "cara pintadas" das manifestações (cores verde e amarelo pintadas no rosto) pelo impeachment de Collor em 1992.


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