O senador Roberto Requião enviou uma carta à bancada do MDB
no Senado, nesta terça-feira (15), informando coloca-se à disposição do partido
na disputa pela Presidência da República e que baterá chapa na convenção
nacional de julho com o ex-ministro dos bancos Henrique Meirelles.
“É um insulto à
consciência emedebista e à própria cidadania que dirigentes do Governo, os
mesmos que levaram ao descalabro a economia, agora, confiados apenas em
dinheiro, se apresentem como postulantes às eleições presidenciais”, diz um
trecho da carta referindo-se a Meirelles, sem citá-lo nominalmente.
O
senador paranaense critica no documento as privatizações e a reforma da
previdência, enfim, o modelo neoliberal que visa reduzir o espaço do Estado,
ampliar o do setor privado e degradar o valor do trabalho, para facilitar os
ganhos do grande capital financeiro.
“Move-me
unicamente o espírito da absoluta necessidade de colocar o PMDB na trilha de
uma mobilização comum, para regenerar o País do virtual derretimento das
instituições republicanas. Não é um ato de aventura”, diz a carta de Requião.
Leia em seguida o texto integral da carta.
Prezado
companheiro senador(a)…
Dirijo-me
aos companheiros tanto como colegas da bancada do PMDB no Senado quanto na
condição de participantes à convenção do que, em julho, definirá os rumos do
partido em relação à sucessão presidencial.
Acredito
que todos partilham da mesma angústia que me tem assaltado nos últimos anos,
quando reflito sobre o destino do Brasil e sobre o papel que nosso partido está
desafiado a desempenhar no próximo quatriênio. Paira sobre nossas costas, como
convencionais, o peso de uma responsabilidade jamais suportado por integrantes
do PMDB, inclusive nos momentos históricos da redemocratização.
Estamos
caminhando para o quarto ano seguido de uma depressão econômica sem
precedentes. Milhões de cidadãos e cidadãs, sobretudo jovens, estão sendo
lançados fora do mercado de trabalho, sem perspectiva à vista de retomada do
emprego. O sistema de seguridade social está esgarçado, com o propósito
aparente de torná-lo ruim para facilitar sua privatização. Empresas
estratégicas como Petrobrás e Eletrobrás, essenciais para o funcionamento da
economia, estão igualmente listadas para privatização retalhada. O Governo está
vendendo a água e a terra a estrangeiros.
Este
mesmo Governo, com nomes do PMDB mas sem a alma histórica do MDB, recusa-se a
tomar qualquer medida efetiva de combate ao desemprego, confiando nas forças
“cegas” do mercado, para revitalizar a economia.
Acabamos
de ver os resultados desse tipo de política na Argentina, levada mais uma vez
ao caos pelos neoliberais. É o caminho que seguiremos, inevitavelmente, se não
houver uma reversão radical da política econômica.
A
estratégia do Governo é simples: reduzir o espaço do Estado, ampliar o do setor
privado e degradar o valor do trabalho, para facilitar os ganhos do grande
capital financeiro.
É
um insulto à consciência emedebista e à própria cidadania que dirigentes do
Governo, os mesmos que levaram ao descalabro a economia, agora, confiados
apenas em dinheiro, se apresentem como postulantes às eleições presidenciais.
São os feitores da emenda 95, a mesma que estabelece o congelamento do
orçamento público por 20 anos, como se, nesse período, o país também ficasse
congelado. Essa lei é uma das que temos a obrigação de submeter a referendo
revogatório, como condição fundamental para a retomada do desenvolvimento, pois
os neoliberais, naturalmente, não fariam isso.
O
projeto neoliberal está em derrocada na Europa, em vários países sul-americanos
e especialmente na Argentina. No Brasil a derrocada avançou consideravelmente.
E uma vitória completa desse modelo seria a privatização da Previdência, da
Saúde, da Petrobrás e da Eletrobrás.
E é
isto que está na pauta também de pré-candidatos à Presidência que se preparam
descaradamente para a convenção do PMDB, tentando dar legitimidade a
iniciativas tão violadoras da tradição do partido como a tal Ponte para o
Futuro, rejeitada nas instâncias partidárias próprias e realizada pelo Governo.
Move-me
unicamente o espírito da absoluta necessidade de colocar o PMDB na trilha de
uma mobilização comum, para regenerar o País do virtual derretimento das
instituições republicanas. Para tanto, estou disposto, desprovido de qualquer
ambição pessoal que não o serviço ao povo, a apresentar meu nome à convenção do
partido.
Não
é um ato de aventura. Esta carta serve como consulta prévia aos convencionais,
e se encontrar parceiros nessa empreitada seguirei em frente. Posteriormente,
encaminharei o discurso que pretendo dirigir à convenção, caso tenha apoio para
disputá-la.
Dos
companheiros e companheiras espero que se movam com razão e emoção.
A
razão indica que temos poucas alternativas para tirar o país da crise econômica
e institucional, mas com a liderança do PMDB reestruturado podemos fazê-lo a
curto prazo, depois das eleições, pois a direita não tem alternativas viáveis,
e a centro-esquerda ainda busca articulação unitária.
A
emoção indica que temos de nos mobilizar para oferecer um horizonte de
esperança a nossas famílias e especialmente nossos jovens, tendo como primeiro
passo de uma iniciativa vigorosa para afastar os entreguistas que tomaram conta
dos postos chave da República.
Embora
essa iniciativa pareça solitária, tomo-a, para que ninguém, amanhã, possa dizer
que me omiti.
Filiado
número um ao PMDB do Paraná, sempre PMDB,
Roberto Requião
Senador da República
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