Procuradora-geral da República, Raquel Dodge, justificou ao
STF a necessidade de se prorrogar por mais 60 dias o inquérito que investiga
Michel Temer no decreto dos portos; no parecer, Dodge deu ênfase como
"especial" à análise dos dados obtidos na quebra de sigilos
bancários, fiscais e telemáticos de envolvidos, bem como do material obtido em
recente busca e apreensão feita contra alvos da operação Skala; decisão é do
ministro Luis Roberto Barroso
BRASÍLIA (Reuters) - A procuradora-geral
da República, Raquel Dodge, afirmou que "diligências pendentes"
justificam a necessidade de se prorrogar por mais 60 dias o inquérito dos
portos, que investiga se o presidente Michel Temer cometeu crimes na edição de
um decreto ano passado que mudou regras portuárias, segundo manifestação da
chefe do Ministério Público Federal (MPF) encaminhada nesta sexta-feira ao
Supremo Tribunal Federal (STF).
No
parecer, Dodge deu ênfase como "especial" à análise dos dados obtidos
na quebra de sigilos bancários, fiscais e telemáticos de envolvidos, bem como
do material obtido em recente busca e apreensão feita contra alvos da operação
Skala. Essa ação, realizada no fim de março, chegou a prender temporariamente
dois amigos de Temer, o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo João
Baptista Lima Filho e o advogado José Yunes.
A
procuradora-geral disse também que, nos depoimentos já colhidos no inquérito,
houve menção a pessoas com envolvimento nos fatos e que precisam ser inquiridas
a fim de esclarecer as situações.
"Diante
do exposto, requeiro a prorrogação do prazo para a conclusão do inquérito
epigrafado, por mais 60 (sessenta) dias, nos termos do art. 230, §1°, parte
final, do Regimento Interno do STF, considerada a existência de diligências pendentes
e necessárias ao deslinde das investigações, sem prejuízos de outras reputadas
úteis", disse Dodge.
Caberá
ao relator do inquérito no STF, ministro Luís Roberto Barroso, decidir se
aceita ou não dar mais tempo para a conclusão das apurações.
Desde
setembro do ano passado, Temer é alvo dessa apuração no STF sob suspeita de ter
recebido propina, por meio do então assessor especial, Rodrigo Rocha Loures,
para editar um decreto que beneficiou a empresa Rodrimar em alterações legais
para a área portuária.
A
pedido do MPF e da PF, Barroso autorizou a ampliação do escopo das apurações
iniciais. Ele permitiu a quebra de sigilos bancário e fiscal de Temer e de
pessoas próximas do presidente.
Na
quinta-feira, uma das filhas do presidente, a psicóloga Maristela Temer, depôs
na PF em São Paulo nesse inquérito.
Maristela
entrou no radar das investigações depois de surgirem suspeitas de que a reforma
da sua casa, na capital paulista, teria sido custeada em dinheiro vivo pelo
coronel Lima.
Delatores
da J&F, holding que controla a JBS , acusaram o coronel de ser um dos
intermediários de Temer no suposto recebimento de vantagens indevidas. As
defesas de Temer, de Maristela e do coronel negam irregularidades.
Em
outra manifestação ao Supremo, Dodge se posicionou contra o pedido da defesa do
presidente para arquivar o inquérito sob a alegação de que não houve
favorecimento da Rodrimar na edição do decreto. Ela destacou que ainda há
apurações a serem feitas.
"É
preciso aguardar a conclusão das diligências em curso neste inquérito. Somente
com o resultado dos atos investigatórios até agora determinados e de outras
diligências que possam surgir no andar do apuratório, poder-se-á alcançar um
cenário mais firme sobre a existência material do delito", considerou.
"Pífia"
Na
semana passada, Temer fez um duro discurso contra a apuração, chamando-a de
"perseguição disfarçada de investigação".
O
Palácio do Planalto receia que o presidente seja alvo de uma terceira denúncia
da Procuradoria-Geral da República —no ano passado ele conseguiu que a Câmara
dos Deputados negasse andamento a outras duas acusações apresentadas pelo
ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.
Em
entrevista nesta sexta à Empresa Brasileira de Comunicação, rede de rádios e TV
estatal, Temer disse que uma eventual terceira denúncia seria ainda mais
"pífia" que as anteriores, rejeitadas pelo Congresso, e não teria
chance de prosperar.
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