Primeira entrevistada da série com pré-candidatos,
deputada confessa que ainda não tem aval do partido
Há três anos e
meio na política, a deputada federal Christiane Yared (PR), eleita em 2014 com
maior número de votos (200.144) entre os paranaenses na Câmara Federal, lançou
por conta própria sua pré-candidatura ao Senado neste ano. O Partido da
República (PR), partido escolhido por ela na janela partidária de 2016, ainda
não se manifestou sobre a decisão de Yared. Eleita pelo PTN, que agora chama-se
PODE, ela garante que o novo partido lhe dá liberdade de votar e apoiar quem
bem entender, sem interferências. Pastora evangélica, ex-doceira e
ex-empresária dona de confeitaria, Yared se tornou símbolo de combate a crimes
de trânsito após uma tragédia familiar que chocou todo o País. Ela perdeu o
filho Gilmar Rafael Yared, que morreu junto com o amigo Carlos Murilo de
Almeira, em 2009, em um acidente e trânciso causado pelo ex-deputado estadual
Luiz Fernando Ribas Carli Filho, condenado neste ano a 9 anos e 4 meses de
prisão. A batalha por justiça deu a ela protagonismo e capital eleitoral.
Na Câmara, Yared apresentou 35 projetos e teve cinco aprovados. A vida pública
também lhe rendeu desgastes. Foi eleita com a bandeira do trânsito, mas também
com imagem de quem combatia poderosos. Em sua trajetória recente revelou que
entende ser necessário transitar entre “Eles”. “O que importa é trazer emendas
ao meu Estado”, diz. Eleita em uma coligação aliada do PT, Yared votou pelo
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e migrou para uma legenda da base
aliada do presidente Michel Temer.
No Paraná, Yared é uma do grupo de quatro pré-candidatos ao Senado que apoia a
pré-candidatura de Ratinho Junior ao governo. Para presidente, escolheu Alvaro
Dias (Pode). “O partido me deixou livre para escolher”, garante.
Bem Paraná - Por
que a senhora decidiu ser pré-candidata ao Senado?
Christiane Yared - Abriu-se
uma lacuna, um nicho, onde vi a necessidade de alguém que se importe para fazer
a diferença. Eu não tinha nem intenção de sair na política. Cinco anos após a
morte do meu filho é que me lancei a essa jornada, que tem sido de um
aprendizado muito grande. Sinto gratidão a Deus por hoje estar deputada federal
e poder fazer a diferença onde eu vivo, no meu Estado. Até dois dias antes da
eleição eu achava que nós não íamos entrar porque não aparecíamos em pesquisa
nenhuma. A eleição foi histórica, gastamos muito pouco, não tínhamos recursos
para fazer uma campanha para viajar o Estado, mas assim mesmo pontuei em 302
municípios. Tenho consciência que uma majoritária é algo muito grande, mas
também vejo um Estado que precisa de um senador que seja municipalista.
BP - A senhora
concorda com a reforma da Previdência como foi posta até agora, é contra uma
reforma ainda neste governo?
Yared – Antes da
reforma da previdência é necessária uma reforma tributária. Temos que rever os
impostos absurdos, o volume, que até é maior de impostos indiretos. A
quantidade de impostos bi tributados, sem perceber a gente paga duas vezes o
mesmo imposto, para que haja um crescimento desse país; dar uma chance aos
empresários para poder abrir uma quantidade maior de trabalho.
BP - Deve-se
tributar mais quem tem mais dinheiro?
Yared - Quem tem
mais, tem que ser (mais tributado). É uma coisa óbvia. Não é justo fazer com
que um trabalhador pague a mesma coisa que um empresário.
BP – Se esse
governo suspender a intervenção no Rio de Janeiro (permitindo a tramitação de
emendas constitucionais), talvez depois da eleição, como a senhora votaria esse
projeto da reforma da previdência agora?
Yared – Eu não concordo
com o projeto que está colocado. Se o País todo tem que dar sua parcela de
contribuição, então que seja por completo, desde o presidente da República até
o vereador, dada a parcela de cada um. Não é justo, falando de nós aqui do
Estado do Paraná, que trabalhamos com o agronegócio, e vamos cobrar apenas
desse trabalhador, desse agricultor? Quem trabalha no campo, no tempo, não pode
ter o mesmo tratamento de quem trabalha no escritório.
BP - O partido
(PR) dá liberdade para que a senhora vote com independência?
Yared – O partido me
dá liberdade, inclusive, para votar em quem eu quiser para presidente. Eu gosto
de Alvaro Dias, acho que ele tem postura de presidente e é nosso, é paranaense.
BP – A senhora foi
eleita pelo PTN (atual Podemos) em uma coligação (PT, PDT, PRB e PcdoB) com
“partidos de esquerda” e votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff, migrou para um partido da base. A senhora não acha que traiu parte do
seu eleitorado?
Yared – De maneira
nenhuma. As pessoas votaram em mim, não votaram no partido. Eu não sou
esquerda, não sou direita. Sou meu Estado. Eu disse desde o início: eu
vou lutar para trazer o maior número de emendas ao Paraná.
BP - A senhora se
arrepende de ter votado a favor do impeachment de Dilma Roussef?
Yared – Não, porque
não fui eu que dei a palavra final do impeachment. Eu votei para que ela fosse
investigada e da mesma maneira votei pela saída de Eduardo Cunha e votei pela
investigação das duas denúncias que houve contra Michel Temer.
BP – A
senhora foi bastante criticada por ter se reunido com Michel Temer às vésperas
da primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ele. Essa
aproximação com o governo e a nomeação de seu marido para a Itaipu podem te
prejudicar na campanha?
Yared – Não. Eu não voto
com o governo. Isso (receber favores) é um privilégio de quem vota com o
governo. Dizem que sou “a rebelde. Ela não vota com o partido”. Meu acordo com
o partido é não quero dinheiro e não quero indicação. Quero o meu voto livre. A
questão do meu marido foi um amigo dele, que viu possibilidade, porque ele tem
dois projetos muito interessante, mas meu marido deixou os projetos e saiu
(pediu exoneração).
BP – A senhora é
pastora evangélica. Como a senhora vê a relação da religião com política e a
influência de igrejas nos votos dos parlamentares?
Yared – Eu não faço parte
da bancada evangélica. Sou pastora e deputada federal, mas não misturo as
coisas. Vivemos em um Estado laico. Mesmo porque acredito seriamente que
no céu não existe placa de igreja.
BP – A senhora
disse que apresentou 35 projetos e teve cinco aprovados. Nesses três anos e
meio qual foi sua principal realização?
Yared – O marco
regulatório para o transporte de cargas (projeto de lei 4860/16) direcionado a
ajudar o País todo. Mas todos os projetos se unem. Às vezes as pessoas dizem
‘ah, mas esse projeto é tolo’. Não é, ele se une a outro projeto.
BP – No Paraná, a
senhora deve apoiar a candidatura de Ratinho Junior (PSD) ao governo?
Yared – Já está
praticamente consolidado. Mas o próprio cenário ainda é instável.
BP – O seu partido
já aceitou sua candidatura?
Yared – A pré-candidatura
por enquanto sou eu (risos). Como ninguém falou nada ainda, eu estou indo. O
partido pode chegar e dizer “olha, não aceitamos”. Vamos caminhar confiantes
que o partido não vá me barrar lá na frente.
BP- A senhora se
relaciona bem com os políticos de diversos partidos, inclusive com o então
governador Beto Richa (PSDB), mas quando foi eleita parte do eleitorado
acreditava que a senhora fosse uma oposição ferrenha a ele. Como vexplica isso
para o eleitor?
Yared – Minha
preocupação é poder trazer o maior número de emendas ao Estado. Esse é o meu
trabalho. Não estou lá para fazer amizade ou para agradar um ou outro.
BP – O que a
senhora acha da prisão e condenação do ex-presidente Lula?
Yared – Ninguém está acima
da lei. É um fato histórico, realmente, mas ninguém está acima da lei. A Lava
Jato mudou a história do País provavelmente, no futuro, para melhor, eu espero.
Torço por isso.
Fonte: Bem Paraná
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