O procurador Carlos Fernando dos Santos
Lima, um dos rostos mais famosos da força-tarefa da Operação Lava Jato, gosta
de usar o Facebook para comentar a investigação. Em 23 de abril, compartilhou
um artigo do jornal gaúcho Zero Hora que
teorizava que a operação só seria possível em Curitiba. Em São Paulo, a
grana não deixaria. No Rio, o problema seria a malandragem. Em Porto Alegre, a
ideologia.
Uma pesquisa feita na Universidade Federal do
Paraná (UFPR) por quatro sociólogos pinta um quadro diferente. Intitula-se
“Prosopografia familiar da ‘Operação Lava Jato’ e do ministério Temer”. É de
julho de 2017. Propõe-se a descrever a genealogia e as relações de personagens
como Santos Lima, seu colega procurador Deltan Dallagnol, chefe da
força-tarefa, e o juiz Sérgio Moro. Um total de 16 pessoas participantes da
maior operação de combate à corrupção da história brasileira.
Suas conclusões? “A classe dominante do Paraná tradicional é
uma grande estrutura de parentesco, quase sempre com as mesmas famílias da elite
estatal ocupando simultaneamente os poderes executivo, legislativo e
judiciário”, diz o texto.
Na origem disso,
segundo os pesquisadores, estão famílias de imigrantes que ao longo do tempo
assumiram o controle dos órgãos e da burocracia estaduais, “com seus
privilégios e poderes, muitas vezes se associando na grande e antiga teia de
nepotismo, de escravidão, exclusão social e coronelismo das antigas e sempre
atuais oligarquias familiares da classe dominante paranaense”.
Moro nasceu em 1972 no Maringá. Sua
família é de origem italiana. Um parente, Hildebrando Moro, foi desembargador
do Tribunal de Justiça do Paraná. Sua esposa, a advogada Rosângela Wolff de
Quadros, também é de família imigrante e com parentes no TJ, Fernando Paulino
da Silva Wolff Filho, na ativa, e Haroldo Bernardo da Silva Wolff, aposentado
em 2000.
Conforme a pesquisa, Rosângela é prima do
atual prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), ambos descendentes de um
capitão, Manoel Ribeiro de Macedo, “preso pelo primeiro Presidente da Província
do Paraná por acusações de corrupção e desvio de bens públicos em instalações
estatais”.
Outro parente influente dela “é Luiz
Fernando Wolff de Carvalho, do grupo Triunfo, bastante ativo nas atividades
empresariais e na política regional, sempre envolvido com problemas jurídicos”.
Santos Lima é filho de um político que foi
do partido da ditadura, a Arena. Promotor de carreira, Osvaldo dos Santos Lima
foi vice-prefeito em Apucarana e, em 1973, presidente da Assembleia
Legislativa. O avô de Carlos Fernando, Luiz dos Santos Lima, era “comerciante e
juiz em São Mateus do Sul, na época do coronelismo local”.
Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da
Lava Jato em Curitiba, nasceu em Pato Branco em 1980. Seu pai, Agenor
Dallagnol, era procurador também. “Tal como nos outros dois [Moro e Lima] casos verificamos uma
reprodução dentro da elite estatal, com os filhos preservando muitas vezes os
valores e as ideologias dos pais na década de 70, época de autoritarismo e
justiça de exceção”, dizem os pesquisadores.
A genealogia dos principais nomes da Lava
Jato leva os estudiosos a pôr em dúvida a falta de ideologia apontada no artigo
compartilhado por Santos Lima. Com o tempo, dizem os sociólogos, ficou “evidente”
a “forma seletiva” como Moro e a força-tarefa “escolheram os alvos políticos”.
Não atacaram o sistema de corrupção privada sobre o Estado vigente desde a
ditadura. Preferiram “inviabilizar o governo Dilma, o PT e perseguir e
desmoralizar o ex-presidente Lula”.
O resultado desse quadro
político-estatal-familiar-burocrático no Paraná, de acordo com a pesquisa da
UFPR? “A grande teia de nepotismo e familismo explica muito do atraso, falta de
justiça e desigualdades no Paraná e Curitiba, locais em que famílias com
mentalidades políticas do ‘Antigo Regime’ ainda mandam e dominam.” Do Diário do
Centro do Mundo com informações da Carta Capital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário