O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) deixou o cargo
para se dedicar à campanha para o Senado e, como consequência, perdeu o foro
privilegiado, mas a situação do tucano pode ficar mais delicada ainda; segundo
áudios do MPF obtidos pela IstoÉ, o então chefe de gabinete do seu governo,
Deonilson Roldo, tenta convencer Pedro Rache, diretor-executivo da Contern, uma
construtora do grupo Bertin, a desistir da licitação para duplicação da PR-323
(negócio de R$ 7 bi), porque, de acordo com o chefe de gabinete, a obra estaria
prometida para a Odebrecht; "A gente tem um compromisso nessa obra
aí", diz Roldo; confira um trecho da conversa
Paraná 247 - O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) deixou o
cargo para se dedicar à campanha para o Senado e, como consequência, perdeu o
foro privilegiado, mas a situação do tucano pode ficar mais delicada ainda.
Segundo áudios do Ministério Público Federal (MPF) e obtidos pela IstoÉ, o então chefe de gabinete do seu governo, Deonilson Roldo,
fez uma negociata com a Odebrecht justamente em torno da obra que teria rendido
milhões a Richa em recursos para a campanha, por meio do caixa paralelo.
No diálogo, Roldo tenta convencer Pedro Rache,
diretor-executivo da Contern, uma construtora do grupo Bertin, a desistir da
licitação para duplicação da PR-323, porque, de acordo com o chefe de gabinete,
a obra estaria prometida para a Odebrecht. O encontro teria sido realizado em
24 de fevereiro de 2014 dentro do Palácio Iguaçu, sede do Governo do Paraná.
A licitação da PR-323 era um negócio de R$ 7 bilhões para
concessão de pedágio e duplicação de 207 quilômetros de uma rodovia estadual
que corta as regiões norte e noroeste do Paraná. A Contern tinha interesse
no contrato, mas o chefe de gabinete de Richa coagiu a empresa para
desistir da licitação, favorecendo a Odebrecht.
Segundo o aúdio,
Deonilson Roldo afirmou a Rachae: "A gente tem um compromisso nessa obra
aí. Queria ver até onde a gente pode entrar para que esse compromisso não
seja desrespeitado".
De
acordo com a reportagem, em contrapartida pela desistência da Contern no
processo licitatório da PR-323, Roldo ofereceu ajuda do governo em outro
negócio de interesse do Grupo Bertin no Complexo de Aratu, no litoral da Bahia,
onde o grupo possuía seis usinas térmicas, porém buscava um parceiro.
A tentativa de
acordo era da seguinte forma: Se a Contern desistisse da PR-323, o chefe
do gabinete de Richa poderia fazer uma negociação com a Companhia Energética do
Paraná (Copel), num valor próximo de R$ 500 milhões. "O grupo tem uma
negociação com a Copel em andamento. Então a gente queria ver em paralelo esses
negócios…", afirmou Roldo.
O
diretor da Contern, Pedro Rache, se comprometeu a conversar com os conselheiros
italianos (do Grupo Bertin), mas pediu a Roldo que a extensão do prazo para
entrega das propostas da PR-323, para que ele tivesse tempo de convencer o
grupo italiano a desistir do contrato.
No
diálogo, o braço-direito de Beto Richa parecia empenhado em resolver o
imbróglio para atender aos interesses da Odebrecht. Por isso, foi solícito
e prometeu encontrar uma forma de postergar o prazo da licitação.
Confira um trecho da conversa:
Deonilson Roldo
Tem planos de entrar na PPP aqui, da 323?
Pedro Rache
Eu tenho planos fortes. Trabalhei muito.
Estou trabalhando, claro que a gente trabalha de uma maneira bem discreta.
Mas estou com a proposta pronta. To com ela pronta para entregar agora.
Deonilson Roldo
Mas a gente tem um compromisso nessa obra
aí. Queria ver até onde a gente pode entrar pra que esse compromisso não
seja desrespeitado.
Pedro Rache
Eu hoje tava bem preparado, estou bem
preparado pra entrar aí. Eu tenho um grupo italiano, que trabalha comigo.
Deonilson Roldo
Eu te perguntei do assunto Copel porque
está em andamento hoje à tarde, está tendo uma reunião na Copel aqui e o
grupo tem uma negociação com a Copel em andamento… pra fechar até o final de
março com uma possibilidade grande de fechar. É um negócio de R$ 500
milhões mais ou menos. São seis térmicas do complexo Aratu que a Copel
está negociando.
Pedro
Se eu posso compor. Mas é o que eu falei:
Eu tenho que levar no grupo primeiro
Deonilson Roldo
Você tem condição de conversar com uma
pessoa agora, saindo daqui?
Pedro Rache
Sem problema nenhum.
Deonilson Roldo
da Odebrecht.
Pedro Rache
Deixa eu explicar uma coisa. Eu não quero
atender a Odebrecht, eu quero atender o governo, é diferente. Eu tenho uma
história com a Odebrecht, passei muita dificuldade (…) A proposta está pronta.
Não estou aqui de conversa, não tenho essa característica (…) Não sou bobo. A
gente precisa criar esse tipo de coisa pra ter a relação. Sendo um pedido
daqui. Eu prefiro que esse pedido seja daqui e não eu ficar trocando ficha,
porque dessa forma eu tenho segurança de que lá na frente… eu passo ter o
crédito, de uma maneira ou de outra, mas eu também fico com crédito com
eles através daqui e não através deles. Resolvendo tudo aqui, sai como se
fosse uma determinação, é bem diferente do que ‘ó tá combinado’.
Deonilson Roldo
Internamente, você tem como ver no grupo que
tem esse outro assunto.
Pedro Rache
Voltando já faço isso rapidamente.
Deonilson Roldo
Uma coisa facilita a outra.
Pedro Rache
Só pra eu me situar: dentro desse
processo, to falando da Copel dos 500 milhões, seria já como se fosse um
equilíbrio com o consentimento…
Deonilson Roldo
A negociação tá em curso na Copel, as
tratativas começaram e a gente tem a possibilidade de dizer assim: ‘ok,
vamos fazer já’.
Pedro Rache
Porque aí eu preciso colocar isso pro
outro lado e ver a posição dessa parte do grupo, de energia.
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