A pré-candidata a vice-presidente pelo Psol o lado do cabeça
de chapa Guilherme Boulos, Sonia Guajajara, afirma que a candidatura de um
indígena é muito importante para a consolidação da democracia. Guajajara é a
primeira indígena em 128 anos candidata a um cargo dessa importância;
levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organização
coordenada por Sonia Guajajara, aponta que o país teria pelo menos 36
pré-candidatos a cargos do Legislativo que se auto-identificam como índios
Do Sul 21 -
A primeira vez que a aldeia mbya-guarani da Lomba do Pinheiro, na zona sul de
Porto Alegre, recebeu alguém que concorre em uma eleição presidencial, a
conversa começou com uma saudação em guarani. “Mba’ẽichapa
neko’ẽ”, disse Sonia Guajajara ao abrir sua fala, na
manhã desta terça-feira (8). Uma espécie de bom dia na língua indígena. Do
outro lado da mesa, decorada com artesanato feito ali, indígenas guarani e
kaingang, vindos de outras aldeias da região assistiam o momento histórico.
“É
tão bom ser acolhida no sul, porque a ideia que nos passam é de que o sul é um
Brasil à parte”, seguiu Sonia, contando sobre as andanças que tem feito na
pré-campanha, visitando além de tribos indígenas, povos quilombolas e
ribeirinhos. “Esse é o maior sentido da nossa jornada, neste momento. Ter um
programa que alcance toda a diversidade do país”.
A
pré-candidatura dela como vice-presidente de Guilherme Boulos, pelo PSOL, é a
primeira de uma pessoa indígena em 128 anos de República Federativa do Brasil
em uma eleição presidencial. Antes de Sonia, o marco mais alto de indígenas na política
institucional havia sido com a eleição de Mário Juruna, pelo PDT do Rio de
Janeiro, em 1983.
Este
ano, porém, eles pretendem alterar essa narrativa. Uma frente integrada por cem
povos indígenas já se articula para ter ao menos um candidato eleito em cada um
dos 26 estados da federação e no Distrito Federal. Um levantamento da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organização coordenada por
Sonia Guajajara, citado em uma reportagem do El País de abril, aponta que o
país teria pelo menos 36 pré-candidatos a cargos do Legislativo que se
auto-identificavam como índios. As filiações vão desde o PSOL de Guajajara até
o PSL de Jair Bolsonaro.
Na
avaliação de Sonia, isso mostra a diversidade de opiniões também entre os povos
indígenas. Ela diz que a prioridade, no momento, é fortalecer a ideia da frente
para garantir mais espaço aos candidatos dela.
“Queremos
mostrar que a gente tem todas as condições de estar nessa disputa de igual para
igual, que não é uma luta secundária, que não somos incapazes, como dizia o
próprio Estatuto do Índio de 1974. Não só a Constituição de 1988 superou isso,
re-escreveu, mas a gente está mostrando na prática que temos todas as condições
de falar por nós mesmos e estarmos ocupando a política institucional”, diz ela.
O
Brasil tem hoje uma população de 896 mil indígenas. Embora não se tenha os
números exatos de quantos habitavam essas terras antes da chegada dos
colonizadores, a estimativa é de que aqui viviam entre 4 e 5 milhões de índios
antes de 1500. Depois de anos de políticas eugenistas, a Constituição de 1988
deu um primeiro passo em direção à reparação. Porém, pouco se cumpriu. Passados
30 anos desde a Carta, a pergunta é por que demorou tanto para ter um indígena
em uma chapa presidencial?
“Não
foi falta de tentativa. Ao longo desses anos todos, as candidaturas indígenas
têm sido apresentadas, não com muito êxito, mas a gente sempre acredita, porque
não comunga com essa forma de fazer política na atualidade. A gente quer entrar
e fazer uma disputa justa e ética. Não tem sentido entrar e continuar fazendo o
que os outros fazem de errado. E queremos que as pessoas votem por
consciência”, avalia Sonia.
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