Uma carta aberta
contra a construção de barragens e em defesa do Rio Ivaí é um dos destaques do
Seminário sobre a Encíclica Laudato Si, “A casa comum”. O documento é assinado
pelas entidades que participaram dos debates, realizado no sábado (21), em
Porto Ubá, no município de Lidianópolis. O tema entrou em discussão, após uma
empresa de Santa Catarina mostrar interesse na construção de uma Pequena
Central Hidrelétrica (PCH), na divisa dos municípios de Jardim Alegre e Grandes
Rios.
Padre Geraldino Rodrigues Proença,
coordenador do seminário disse que a carta segue a orientação da encíclica
“Louvado Seja” do Papa Francisco. “A encíclica é um documento do papa falando
sobre a questão ambiental, a defesa do meio ambiente”. Conforme padre
Geraldino, a Carta de Porto Ubá é um compromisso de defender o rio, como área
de preservação ambiental e patrimônio natural, livre de barragens. “Pede também
o compromisso do cidadão de cuidar do rio no combate à pesca predatória; de
denunciar o abuso quanto ao uso de agrotóxico na agricultura; de proteger as
matas ciliares; e defender todas as espécies de vida que compõem nossa fauna e
flora”.
Essa é a segunda vez que a Diocese de
Apucarana se mostra contrária ao barramento no Rio Ivaí. O primeiro sinal foi
dado pelo bispo Dom Celso Antônio Marchiori, em dezembro, em entrevista
exclusiva a Tribuna, pouco antes de ser transferido. Na época ele afirmou que
era contrário a qualquer intervenção empresarial no Rio Ivaí.
Conforme a bióloga Suzicley Jati, do
Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupelia), da
Universidade Estadual de Maringá (UEM), o Rio Ivaí e o Rio Piquiri são rotas de
migração de peixes. Espécies com grande importância econômica como Dourado,
Pintado e o Corimba usam esses rios para migrarem e se reproduzirem.
“Se forem construídos reservatórios além
de comprometerem esses dois rios, estarão comprometendo também o único trecho
livre de 220 quilômetros do Rio Paraná que fica entre Porto Primavera e Itaipu.
Sem os tributários esse trecho do Rio Paraná morre”, disse Suzicley.
A bióloga destaca que o projeto não traz
tantos benefícios econômicos como se pensa. “Os impostos da venda de energia
elétrica são gerados onde ela é consumida, não onde é produzida. Nós pagamos um
passivo ambiental imenso para que outros estados ganhem impostos com isso”,
afirmou Suzicley.
Marildo Oliveira, coordenador da ONG
Patrulha Ambiental do Rio Ivaí e da Associação dos Pescadores do Porto Ubá diz
que a barragem vai estabelecer limites à população de peixes, impedindo o
acesso aos locais tradicionais de desova. “O peixe nativo praticamente vai
deixar de existir. Vai ter que ser colocado peixe exóticos, como a Tilápia,
Corvina, Tucunaré. São peixes que além de demorar para se acomodar aqui (Rio
Ivaí) são peixes sem grande valor econômico, como é o Dourado, a Piapara, o
Cascudo e outras espécies nativas que tem aqui no Ivaí. Se isso acontecer, pelo
menos 50 famílias daqui e da região que vivem da pesca serão
prejudicadas”.
Fonte:
TN Online
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