sexta-feira, 13 de abril de 2018

Acampamento Lula Livre segue crescendo. “Estamos prontos para vigília permanente”

Rafael Ribeiro

Lideranças e trabalhadores, em especial do campo, se revezam no acampamento que pede liberdade para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba, onde está preso desde sábado (7)
Da Rede Brasil Atual - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta seu quinto dia de cárcere em Curitiba. Ele se encontra na Superintendência da Polícia Federal após ter cumprido, no sábado (7), um mandado do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Lula pode estar só em sua cela, porém, do lado de fora, apoiadores tentam cercá-lo de solidariedade. Todos os dias, pela manhã, os presentes gritam "bom dia" em coro para o ex-presidente.
Nesta manhã não foi diferente. Após o "bom dia", teve início uma extensa agenda de atividades no acampamento levantado no local. Além do sociólogo Jessé de Souza, passaram por lá lideranças indígenas e moradores da cidade. "Moro aqui no bairro de Santa Cândida, duas quadras abaixo. Abri as portas da minha casa para que as mulheres possam tomar banho, para colaborar. A manifestação está muito bem organizada, não atrapalham em nada nosso convívio. E aqui, estão lutando por quem está em casa. Sempre com muito respeito", disse a curitibana Rosa.
A liderança indígena Txahá Yohã esteve no acampamento Lula Livre e disse algumas palavras aos presentes. "Não podia deixar de vir aqui. Vim aqui não só pelos povos indígenas, mas por todos os povos invisibilizados do mundo. Se fazem isso com um homem do povo, nosso Nobel da paz, nosso candidato... Esses vagabundos estão pisando na nossa galinha dos ovos de ouro. O homem que levou um país subdesenvolvido a ser um país de grande futuro", disse. "Por causa de Lula e Dilma me formei em uma universidade federal, me especializei e meu povo indígena hoje é sujeito de nossas histórias."
"Não podemos deixar isso, prenderam um inocente. Uma pessoa que temos, graças a ele, educação no campo, leis que mostram que os indígenas ainda existem. Éramos milhões e hoje somos 300 povos, falamos mais de 200 línguas. Agradeço ao povo dessa cidade que está nos apoiando, tem muita gente boa em todo lugar, estão nos acolhendo nas casas deles, estão aqui nos prestigiando. É possível que todos sejamos bons, que o morador de rua esteja aqui comigo. Não vamos desistir nunca", completou.
Também passou pelo acampamento a chef de cozinha paulistana Bel Coelho, que saudou as cozinheiras do acampamento que pertencem, na maior parte, ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). "Trabalho só com produtos agroecológicos, muitos que vêm de comunidades do MST. Esse movimento é o movimento mais importante hoje, que é fortalecer o campo. Alimento bom e limpo. Infelizmente temos retrocessos cada vez maiores com a aprovação de agrotóxicos que beneficiam o agronegócio, então, precisamos fortalecer o outro lado", disse.
"Vim mais para me disponibilizar e fazer conexões entre cidades e o campo. Estou nessa luta por um alimento mais saudável e em harmonia com as florestas, com todos os aspectos da sociedade. Todos aqui são guerreiras e guerreiros", disse. A chef também falou sobre a importância do voto consciente para cargos do Legislativo, além da luta pela liberdade de Lula para que possa ser candidato à presidência. "Precisamos fazer nossas campanhas dos nossos candidatos, mas sabemos o poder que as bancadas da bala e do boi têm", apontou. "A conversa diária não é só mais pela legalidade, pelo Lula livre, mas sim pela defesa da candidatura de quem defenda essas bandeiras."
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann (PR), também passou o dia no acampamento e conversou com os moradores do bairro. "Qual bandido teria um acampamento destes em frente de onde está detido? Qual bandido teria a visita de nove governadores? É um absurdo o que está acontecendo. Estão levando o Brasil para o caos. Temos miséria novamente", disse.
Orientações e reforço
As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo estão mobilizadas em torno da resistência pela liberdade de Lula. Para os movimentos, o fortalecimento da união popular em torno da causa é o que vai trazer resultados. Entre as diretrizes apontadas como estratégicas no momento estão: fortalecer o acampamento Lula livre em Curitiba, reforçar a mobilização internacional de solidariedade ao ex-presidente, fazer de 17 de abril o dia nacional de mobilizações contra o golpe, promover um encontro de personalidades em Curitiba no dia 18 de abril, e realizar um 1º de maio massivo e unitário em defesa da democracia.
Neste sentido, o acampamento segue forte. De acordo com informações da CUT, os ônibus de ativistas em defesa de Lula continuam a chegar na capital paranaense. "Desde o anúncio da prisão política do ex-presidente Lula, caravanas de agricultores familiares não param de chegar. Só do estado do Paraná mais de 150 pessoas ligadas à Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf) passaram pelo acampamento nos últimos dias. Além disso, caravanas vindas de outros estados como Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão programadas para vir a Curitiba", afirma a central.
Para o secretário de Finanças da CUT Paraná e coordenador da Fetraf no estado, Neveraldo Oleboni, mais do que prestar solidariedade ao ex-presidente, os agricultores estão defendendo um legado. "O ex-presidente fez com que a nossa agricultura familiar saísse de um patamar de extrema pobreza e passasse a ser realmente uma categoria produtora de alimentos de qualidade reconhecida e deu uma qualidade de vida melhor e dignidade ao povo do campo", disse.
O agricultor Elizandro Paulo Krait, que está em Curitiba, disse que "estamos prontos para fazer uma vigília permanente, com muita vontade e certeza que a justiça será feita um dia neste país. O Lula vai ser livre e acima de tudo vamos provar a inocência do ex-presidente. Nós sabemos tudo o que ele fez para a classe trabalhadora, especialmente aos agricultores familiares".


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