Legendas
trocam de nome para tentar driblar rejeição do eleitorado às siglas
tradicionais
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Hidalgo:
“Mais um modismo que não vai servir
para
nada” (foto: Franklin de Freitas)
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Com a aversão
generalizada da população diante dos sucessivos escândalos de corrupção e a
crise de representatividade, os políticos brasileiros estão investindo na
adoção de nomes “genéricos” para esconder seus partidos e tentar atrair a
simpatia do eleitorado. A estratégia para se descolar da crise e driblar a
rejeição popular tem sido tirar o “partido” do nome da legenda, apostando no
desejo de renovação. A avaliação dos analistas, porém, é de que essa artimanha
terá pouco ou nenhum efeito, se as mudanças se limitarem a questões cosméticas
e de marketing, e não o comportamento dos políticos em relação às necessidades
da população e o trato com o dinheiro público.
Nesse movimento, vale tanto copiar ideias vindas do exterior quanto olhar para
o passado. Nesse segundo caso, por exemplo, está o PMDB, que pretende se livrar
do “P” de sua sigla para voltar a se chamar “Movimento Democrático Brasileiro”
- ou MDB – nome que a legenda tinha quando foi criada, em 1966, para fazer
oposição à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à
ditadura militar.
A ideia é defendida pelo atual presidente nacional da sigla, senador e líder do
governo Temer no Senado, Romero Jucá (RR), que encaminhou um ofício ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) para mudar o nome do partido. A alteração, que tem o
aval de Temer, deve ser oficializada em setembro, na convenção nacional da
legenda.
Jucá nega que a mudança do nome seja uma tentativa de "esconder" o
partido atrás de uma nova marca, já que a cúpula da legenda e o próprio Temer
são alvo de denúncias relacionadas a escândalos de corrupção, especialmente no
âmbito da Operação Lava Jato. "Nós estamos querendo colocar o partido de
acordo com o que tem de mais moderno no mundo hoje. Os novos partidos não são
registrados como partido", alegou.
Modismo - Em busca de um “abrigo” partidário para sua pré-candidatura à
Presidência da República, o deputado federal Jair Bolsonaro anunciou
recentemente que está mudando do PSC para o Partido Ecológico Nacional (PEN),
que por sua vez passará a se chamar “Patriotas”. O mesmo fez o senador do
Paraná, Álvaro Dias – também pré-candidato à sucessão de Temer – que trocou o
PV pelo PTN no momento em que a sigla adotou o nome de “Podemos”. Outros
exemplos recentes são o PTdoB, que virou Avante e o PSDC, que agora se intitula
“Democracia Cristã”.
Nos dois casos, a inspiração veio de movimentos políticos europeus, como o
“Podemos” da Espanha, um partido de esquerda fundado em 2014, que em pouco
tempo se tornou um dos mais seguidos nas redes sociais, superando as legendas
tradicionais do País. Ou o “Em Marcha!”, da França, criado em 2016 pelo
ex-ministro da Economia e Indústria, Emmanuel Macron, eleito presidente do país
em junho deste ano.
Para o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, essas manobras não vão
resolver o problema da descrença do eleitorado com a política. “É mais um
modismo brasileiro que não vai servir para nada”, avalia. “Precisa mudar por
dentro, coisas que aparentemente ninguém fala”, cobra ele.
Hidalgo questiona, por exemplo, se o PMDB, além de tirar o partido do nome da
legenda, pretende também expulsar seus integrantes denunciados por corrupção.
“É preciso mexer nas estruturas”, afirma.
Causa própria
Reforma protege
quem já tem mandato
A reforma política em gestação no
Congresso tem como único objetivo facilitar a reeleição dos políticos que já
têm mandato e dos caciques partidários. A avaliação é do diretor da Paraná
Pesquisas, Murilo Hidalgo, sobre propostas como o “distritão” para a eleição de
deputados e a criação de um fundo de R$ 3,6 bilhão com dinheiro público para
financiar as campanhas.
No caso do “distritão” - pelo qual seriam eleitos para o Legislativo os
candidatos mais votados, acabando com o voto proporcional ou de legenda -
Hidalgo considera que ele até poderia ser positivo, se os partidos fossem
fortes, o que não acontece. Esse sim é o verdadeiro golpe. O 'distritão' está
vindo para reelegê-los”, afirma.
O mesmo vale para o fundo eleitoral, diz ele. “Pessoas sérias terão dificuldade
de gastar esse dinheiro”, aponta, prevendo a rejeição do eleitorado ao uso de
dinheiro público para campanha. “Aconteça o que acontecer, só tem um
beneficiário – eles mesmos”, considera o pesquisador.
Além disso, prevê Hidalgo, a tendência é que os partidos limitem o número de
candidatos, barrando novas lideranças, para concentrar o dinheiro do fundo nas
campanhas de seus caciques.
Bem Paraná