Eduardo
Guimarães, do Blog da Cidadania, teve computador e celulares apreendidos pela
Polícia Federal e foi levado por policiais para explicar vazamento de
informação sobre condução coercitiva de Lula em março de 2016
Deputados do PT criticaram duramente o juiz Sérgio Moro por ter autorizado
a condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania.
Guimarães foi acordado por volta das 6 horas da manhã, em sua casa, em São
Paulo, por agentes da Polícia Federal. Em seguida, foi levado para depor na
Superintendência da PF na capital paulista, onde foi questionado sobre a fonte
que lhe repassou previamente a informação sobre a condução coercitiva do
ex-presidente Lula na Operação Lava
Jato, em março do ano passado. O
blogueiro teve computador e celulares apreendidos e só foi liberado no final da
manhã.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP)
disse que expressou diretamente ao juiz Sérgio Moro sua indignação por meio de
uma videoconferência na manhã desta terça-feira. Teixeira foi ouvido pelo
magistrado como testemunha de defesa de Branislav Kontic, ex-assessor de
Antonio Palocci investigado na Lava Jato.
“Não é jornalista”
Em vídeo divulgado nas redes sociais,
o parlamentar petista contou que questionou Moro sobre sua decisão. “Aí o juiz
Sérgio Moro me disse: ‘Mas ele não é jornalista’. Eu disse: ‘Dr. Sérgio, o fato
de não ser jornalista não o impede de exercer jornalismo. O Brasil não exige
formação específica para jornalista’. Acho grave que seja investigada a fonte
do Eduardo Guimarães que teria divulgado a condução coercitiva do ex-presidente
Lula. Assim, acho de extrema gravidade a condução coercitiva, porque é uma
restrição à liberdade de imprensa e informação. É censura”, disse Paulo Teixeira.
Segundo o deputado, a condução
coercitiva do blogueiro constrange aqueles que “questionam a postura do
Judiciário e eventualmente a própria postura do juiz Moro”. “Acho
gravíssimo precedente na história recente do Brasil a condução coercitiva de uma
pessoa que exerce a função de informar. O que o juiz está querendo é saber da
fonte dessa pessoa. Acho que ele age contra a Constituição, que garante o
segredo da fonte”, declarou.
O Blog da Cidadania antecipou
a condução coercitiva de Lula há um ano. Na época, o Ministério Público Federal
anunciou que abriria processo para apurar o vazamento da informação para o
blogueiro. O repasse de informações a jornalistas é uma constante na Lava Jato.
Nenhum caso, porém, resultou em condução coercitiva ou apuração mais profunda
até agora. O site se
caracteriza por críticas à Lava Jato, à defesa dos ex-presidentes Lula e Dilma
e de partidos de esquerda.
Sem equipamento
Em entrevista ao site Jornalistas
Livres, o blogueiro afirmou que não entende a razão de sua condução coercitiva
porque, em momento algum, recusou-se a depor. O depoimento, segundo ele, estava
previsto para daqui a algumas semanas. “Eu sou agora um blogueiro sem
equipamento nenhum. Eu acredito que a apreensão do meu equipamento de trabalho
viola sim a atividade jornalística. Porque eles vão vasculhar”, declarou.
Guimarães contestou ainda o argumento da Justiça de que ele não tem formação
jornalística; “Isso é um equívoco, um desconhecimento da ordem legal do país”,
disse o blogueiro. Ele lembrou que há 12 anos tem um site jornalístico.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS)
chamou de “estupidez” a declaração de Moro de que o blogueiro não é jornalista
e, por isso, deveria revelar sua fonte. “A alegação do Moro que ele não é
jornalista é uma estupidez. A Constituição Federal diz respeito à atividade,
não à pessoa. É uma afronta”, criticou.
O blogueiro é alvo de outra ação,
movida pela Associação de Juízes do Paraná, em que é acusado de ameaçar Sérgio
Moro pelas redes sociais. Eduardo Guimarães alega que as mensagens não eram
dirigidas ao magistrado, mas a um seguidor. “Os delírios de um psicopata
investida de um poder discricionário como Sergio Moro vão custar seu emprego,
sua vida”, escreveu no Twitter em 21 de junho de 2015.
Pela decisão de Moro, os policiais
terão acesso aos arquivos e mensagens eletrônicas “armazenadas em eventuais
computadores ou em dispositivos eletrônicos de qualquer natureza, inclusive
smartphones, que forem encontrados, com a impressão do que for encontrado e, se
for necessário, a apreensão de dispositivos de bancos de dados, disquetes, CDs,
DVDs ou discos rígidos”.