Jornalista Cíntia Alves, do Jornal GGN, destaca que Está
recheado de ironias e perguntas desconcertantes o recurso que a defesa de Lula
apresentou ao juiz Sergio Moro, nesta quarta (6), insistindo em colher o
depoimento do ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran na ação do suposto
imóvel para o Instituto Lula; defesa de Lula atacou a seletividade de Moro em
relação à imprensa: quando o "criminoso" delata a Lava Jato, as
notícias, para o juiz, são falsas; mas quando o "criminoso" delata
Lula, as reportagens são até usadas na sentença; "Cabe recordar que este
juízo deu grande valor a matérias jornalísticas quando da prolação da sentença
condena
Por Cíntia Alves, Jornal GGN - Está
recheado de ironias e perguntas desconcertantes o recurso que a defesa de Lula
apresentou ao juiz Sergio Moro, nesta quarta (6), insistindo em colher o
depoimento do ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran na ação penal em que
o ex-presidente é acusado de receber um imóvel para o Instituto Lula e um
apartamento vizinho ao que habita, em São Bernardo do Campo (SP).
Moro já
rejeitou Tacla Duran como testemunha duas vezes. E descolou várias
justificativas para isso.
Disse
que não sabe onde Tacla Duran se encontra, já que está foragido na Espanha. O
argumento é estranho, tendo em vista que o próprio juiz apontou o endereço com
detalhes quando formulou uma ordem para que as autoridades brasileiras peçam
cooperação jurídica internacional para processar o advogado em Curitiba.
Moro
também disse que Duran não tem nada a acrescentar à defesa de Lula, já que não
participou diretamente dos supostos fatos que fundamentam a denúncia. Se faz,
no caso, de desentendido.
HOMEM-BOMBA
Tacla
Duran deixou claro no depoimento à CPMI da JBS que tem potencial para minar não
só a ação penal contra Lula, mas também todas as outras que foram apresentadas
tendo como provas extratos do Meinl Bank e o Drousys (um sistema de comunicação
que teria registro de propinas), ambos da Odebrecht.
O que o
advogado explicou aos deputados, e que foi totalmente abafado pela grande
mídia, é que dois os sistemas são de propriedade da Odebrecht e foram
manipulados no decorrer da Lava Jato. Se o sistema foi fraudado em algumas
oportunidades (ele citou especificamente a denúncia contra Michel Temer), quem
garante que todas as provas não são viciadas? Ninguém. Por isso Duran declarou,
com todas as letras, que tudo que está relacionado ao Drousys está viciado e
deve ser descartado.
"A
partir do momento em que o sistema foi manipulado antes, durante e depois do
bloqueio, as provas, no meu entender, são viciadas. Todas as provas que saem
daquele sistema, a partir daí, são viciadas", disse Duran.
As
falas de Duran à CPMI foram anexadas pela defesa de Lula no recurso [em anexo]
apresentado a Sergio Moro, para que rebater o argumento de que o ex-advogado da
Odebrecht não teria importância para o julgamento do ex-presidente.
CRIMINOSO SEMPRE TEVE CRÉDITO
Os
advogados de Lula ainda rebatem outra justificativa de Moro para não ouvir
Duran: a de que o advogado seria um criminoso cuja palavra não merece crédito.
Na
visão de Moro, "o objetivo claro das declarações públicas de Rodrigo Tacla
Duran são, como ele mesmo chegou a admitir, afastar este julgador, que decretou
a sua prisão preventiva, do processo pelo qual responde, não sendo ele, no
contexto e sem mínima corroboração, pessoa digna de qualquer credibilidade, com
o que seu depoimento em nada contribuiria para a apuração dos fatos na presente
ação penal, máxime quando, como adiantado, sequer participou dos fatos que
constituem objeto da ação penal."
O juiz
disse mais: "A palavra de pessoa envolvida, em cognição sumária, em graves
crimes e desacompanhada de quaisquer provas de corroboração não é digna de
crédito, como tem reiteradamente decidido este Juízo e as demais Cortes de
Justiça, ainda que possa receber momentâneo crédito por matérias jornalísticas
descuidadas e invocadas pela Defesa."
A
defesa de Lula ironizou as desculpas de Moro.
"Esse
Juízo mesmo tem sido frequente em afirmar que 'crimes não acontecem no céu'
(sic) e que, em certas circunstâncias somente pessoas partícipes dos fatos (ou
correlatos e conexos) podem esclarecer a verdade, não é mesmo?"
"Assim
não fosse", continuaram, "delações e depoimentos de aspirantes a
delatores, ordinariamente desacompanhados de quaisquer elementos de
corroboração, teriam de ser de plano descartados, o que não se pratica (muito
ao contrário) nos casos que tramitam – ou já tramitaram – perante esta douta
Vara Especializada."
Além
disso, apesar da Lava Jato fingir que não, ainda está em vigor no Brasil o
"princípio constitucional da presunção de inocência", o que
desautoriza Moro a chamar Tacla Duran de "criminoso", um vez que sua
ação penal ainda está em andamento.
SELETIVIDADE
Não
satisfeita, a defesa de Lula atacou a seletividade de Moro em relação à
imprensa: quando o "criminoso" delata a Lava Jato, as notícias, para
o juiz, são falsas; mas quando o "criminoso" delata Lula, as
reportagens são até usadas na sentença.
"Cabe
recordar que este juízo deu grande valor a matérias jornalísticas quando da
prolação da sentença condenatória [do caso triplex], por exemplo. Agora não
mais?", questionaram os advogados de Lula.
Por
fim, os advogados ainda disseram que se Moro não quer dar ou não possui o
endereço de Tacla Duran para uma videoconferência, a solução é simples: basta
pedir para a CPMI da JBS, que ouviu o advogado por meio deste mesmo recurso, na
semana passada. "Como se vê, é fácil inquiri-la..."
"QUE NÃO INTERDITE O CAMINHO DA VERDADE"
Se Moro
não quer autorizar uma audiência com Duran com a desculpa de que oitivas de
testemunhas que moram no exterior "são custosas e demoradas", que o
juiz autorize, então, a juntada aos autos do depoimento do advogado à CPMI. Foi
o que pediu a defesa de Lula.
"Diante
de tais declarações prestadas, envolvendo diretamente os documentos impugnados
no âmbito deste procedimento incidental, como é possível se afirmar ser
impertinente a oitiva do Sr. Rodrigo Tacla Duran nestes autos para a resolução
do conflito? Só mesmo para quem não o quer, de modo algum!", disparou a
banca.
"Em
suma, o que se pede é que não se interdite o caminho para a descoberta de toda
a verdade", acrescentou.
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