Relatório
encomendado pela Volkswagen concluiu que houve cooperação entre a equipe de
segurança interna de sua filial brasileira e a ditadura militar no país. O
texto afirma, no entanto, que não foram encontradas evidências claras de uma
colaboração institucionalizada da montadora.
O estudo foi apresentado nesta quinta (14)
na unidade da multinacional alemã em São Bernardo do Campo (SP). É assinado
pelo professor alemão Christopher Kopper, contratado pela Volkswagen após
ex-funcionários relatarem casos de abuso durante o regime militar. "A VW
do Brasil foi irrestritamente leal ao governo militar brasileiro e compartilhou
os seus objetivos econômicos e de política interna. A correspondência com a
diretoria em Wolfsburg evidenciou até 1979 um apoio irrestrito ao governo
militar que não se limitava a declarações de lealdades pessoais", informa
o texto.
A pesquisa apontou que em 1969 teve início
uma colaboração com os militares, sobretudo por meio da atuação do então chefe
do departamento de segurança Ademar Rudge, ex-oficial das Forças Armadas.
"Ele agia por iniciativa própria, mas com o conhecimento tático da
diretoria. Uma vez que não havia obrigação legal de informar sobre
manifestações de opinião da oposição, agia em responsabilidade própria e com
lealdade natural ao governo militar", escreveu o historiador.
O setor de segurança teria monitorado as
atividades dos funcionários e facilitado a prisão de no mínimo sete deles. Há
pelo menos um relato de prática de tortura, por parte de agentes do governo,
nas dependências da fábrica. A despeito desses fatos, o historiador afirma não
ser possível atribuir à empresa uma ação deliberada de repressão. "Não
achei prova nenhuma de que a diretoria tenha dado alguma ordem para que a
segurança industrial buscasse essas informações. A diretoria sabia que pessoas
da empresa foram pressas, é claro. Mas acreditamos que não soubesse que sua
própria segurança industrial tenha contribuído para isso", disse Kopper à
imprensa.
Segundo ele, a matriz alemã não estava
interessada no que ocorria no Brasil no período. Isso teria mudado em 1979, com
as greves de funcionários do setor lideradas dirigente sindical Luiz Inácio
Lula da Silva. A partir daí, diz o historiador, a montadora iniciou uma nova
gestão de valores democráticos e orientou a filial em São Bernardo a instituir
uma comissão para dialogar com os empregados. "Vivemos agora um novo
momento, muito mais humano, em nossa relação com os brasileiros", comentou
o CEO da Volkswagen na América do Sul e no Brasil, Pablo Di Si. "Reconhecemos
que o processo da ditadura foi muito difícil e que pessoas da empresa
colaboravam com os militares. Mas isso não configura, como explica o relatório,
uma atitude institucionalizada por parte da empresa. Lamentamos o que e
aconteceu e trabalharemos para isso não volte a ocorrer no futuro",
afirmou Di Si.
Após os discursos, uma placa em memória
das vítimas do regime militar foi descerrada nas instalações da fábrica. Também
anunciou-se um plano de parceria da Volkswagen com associações civis e de
direitos humanos. Antes da cerimônia, grupos sindicais protestaram na porta da
fábrica. "Menos festa, mais justiça", dizia um dos cartazes
empunhados. Fazia parte do grupo Lúcio Bellentani, ex-ferramenteiro da
Volkswagen que em 1972 foi abordado por um grupo armado de agentes do
Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e seguranças patrimoniais da
empresa em plena linha de produção. Ele alega ter sido agredido dentro da
fábrica.
Bellentani, hoje com 72 anos, ficou preso
por um ano e meio. Ele e outros funcionários denunciaram a montadora ao
Ministério Público em 2015. "Queremos que eles se responsabilizem pelo que
houve. Não adianta apenas apresentar um documento sobre aquele período. Pedimos
na ação uma reparação coletiva, como a construção de um museu ou memorial, e
uma reparação individual financeira." Por ora, a Volkswagen informa não
planejar nenhum ressarcimento individual. Do Bem Paraná com informações da
Folha Press.
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