A defesa do
ex-ministro Paulo Bernardo (PT-PR) explorou contradições em depoimentos de
delatores da Lava Jato para pedir a absolvição do cliente no processo em que
ele é acusado de pedir R$ 1 milhão em propina de um esquema na Petrobras para a
campanha de Gleisi Hoffmann (PT-PR), sua mulher, ao Senado, em 2010. As
informações são de Wálter Nunesna Folha de S. Paulo.
A PGR
(Procuradoria-Geral da República) denunciou Bernardo por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro. As alegações finais com a defesa do ex-ministro foram
protocoladas nesta terça-feira (19) no Supremo Tribunal Federal (STF).
As
principais contradições indicadas pela defesa são em relação a quem teria
recebido a solicitação de Paulo Bernardo para o suposto pagamento de propina. O
doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ambos
delatores, apontam um para o outro.
A peça
da defesa destaca cinco fragmentos de depoimentos de Costa em que ele diz que
foi Alberto Youssef o alvo do pleito do ex-ministro. “Foi Alberto Youssef quem
pediu o repasse e não se recorda de Paulo Bernardo ter feito esse pedido ao
declarante (Costa). (…) Paulo Bernardo nunca procurou o declarante para tratar
de valores ilícitos”, diz um dos trechos.
Outros
sete destaques mostram Youssef indicando na mão contrária. “O Paulo Roberto me
pediu que entregasse esse um milhão, falando que era para a campanha da
senadora Gleisi”, diz o doleiro. “Nem o conheço [Paulo Bernardo/Gleisi]. Nunca
tive nenhum contato pessoalmente”.
120 PÁGINAS
A peça
tem 120 páginas e inicia com a citação de uma frase do ministro Gilmar Mendes,
que fez um alerta ainda no início do processo. “Esses ajustes que vão sendo
feitos nas delações (…), sem dúvida nenhuma, dão azo à preocupação, e,
certamente, isso merecerá uma análise muito mais aprofundada quando do
julgamento de mérito”, disse Gilmar.
No
documento, a defesa diz que a PGR “alterou tendenciosamente” depoimentos para
sustentar a acusação. “Faz-se necessário destacar, excelências, que na
tentativa espúria de ‘salvar a acusação’, ao longo da denúncia e das alegações
finais, a PGR alterou tendenciosamente o conteúdo de um dos depoimentos de
Paulo Roberto Costa, dando a entender que naquela oportunidade teria acabado
‘por admitir que a solicitação pode sim ter sido feita diretamente a ele por
Paulo Bernardo'”, diz a defesa.
A
defesa conclui. “Ora, como cristalinamente transcrito na tabela acima, Paulo
Roberto Costa jamais admitiu que a solicitação pode ter sido feita diretamente
pelo peticionário. Muito pelo contrário: o colaborador confessou nas diversas
vezes que foi ouvido que, pelo que se recorda, o pedido teria vindo de Alberto
Youssef”, afirma a peça.
Nas
alegações finais os defensores do ex-ministro dizem que a acusação feita pela
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, distorce o depoimento de Delcídio
do Amaral ao dizer que o ex-senador teria explicado o poder de Bernardo
enquanto ministro do Planejamento para manipular o orçamento da Petrobras.
A
advogada Verônica Sterman, que defende o ex-ministro, diz que a Procuradoria
não conseguiu provas contra seu cliente. “A acusação se baseia unicamente em
delações que são contraditórias entre si e não apresentam nenhum documento para
comprová-las, salvo uma anotação feita unilateralmente por um dos colaboradores,
o que, como já decidido pelo STF, não pode ser usada como prova”, disse a
advogada.
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