Entre os dados do relatório, coordenado pela ex-ministra
Tereza Campello, está o crescimento de 268% da presença de negros na
universidade
(Foto:
Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
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“O Brasil
vivenciou uma inédita e sistemática queda da desigualdade no período recente,
mas continua a ocupar a posição de um dos países mais desiguais do mundo.” Esta
afirmação faz parte do relatório Faces da desigualdade no Brasil. Um olhar sobre osque ficam para trás, lançado no Colóquio
Internacional O desafio da igualdade no Brasil e
na América Latina, que ocorre nesta segunda e terça-feira, 27 e 28
de novembro, na cidade do Rio de Janeiro.
O
estudo foi coordenado por Tereza Campello, ex-ministra de Desenvolvimento
Social e Combate à Fome do governo Dilma Rousseff e doutora em políticas
públicas em saúde (Fiocruz).
A
publicação traz dados que mostram como em pouco mais de uma década, foram
alteradas situações de desigualdade dadas como irreversíveis. Para a análise
foram utilizados números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad),
de 2002 a 2015.
Segundo os
pesquisadores Tereza Campello e Pablo Gentili, doutor em Educação e professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, “considerando o Coeficiente de
Gini, os dados são claros ao evidenciar uma queda na desigualdade de renda no
período de 2002 a 2015, em patamares e com uma qualidade como não havia
ocorrido na história brasileira”. Entre 1980 e 2001, esse coeficiente ficou
congelado no elevado patamar de 0,59, caindo, em 2015, ao seu nível mais baixo,
0,49.
Para
eles, “há uma leitura tendenciosa por parte da imprensa que insiste em
desqualificar o processo de inclusão e redução da injustiça social no período
recente em que o Brasil foi governado por forças progressistas. São narrativas
contaminadas pelo ambiente de disputa política e que têm ocultado importantes
avanços que impactaram os mais pobres, os negros, as mulheres, os nordestinos e
nortistas, os que moram nas periferias, os invisíveis do campo, entre tantos
outros brasileiros”.
Dados do relatório
O
material mostra diversos avanços em relação à educação, habitação, saúde,
acesso à infraestrutura e bens de consumo e à redução da desigualdade entre
negros e brancos.
Entre
os dados, o estudo afirma que cresceu 242% o número de pais e mães que
completaram o ensino fundamental entre os 20% mais pobres.
Enquanto
os brancos aumentaram sua presença na universidade de 1,8 milhão para 2,3
milhões de pessoas, com ampliação de 26%, os negros passaram de pouco mais de
400 mil para 1,6 milhão de jovens. O aumento foi de 268%.
O
escoamento sanitário foi ampliado em 114% para a faixa mais pobre. O acesso à
energia avançou sete vezes mais rápido entre os 5% mais pobres.
A
mortalidade infantil recuou 45%. O atendimento médico na atenção básica para o
público geral cresceu 64%.
A
renda dos 20% mais pobres cresceu quase quatro vezes mais rápido que a dos mais
ricos.
Em
2002, os pobres crônicos no Brasil somavam 9,3% da população, enquanto que em
2015 o percentual é reduzido para o índice de 1%, mesmo o país já estando sob
os efeitos da crise internacional.
Perspectivas para
o futuro
Os
pesquisadores são pessimistas em relação à continuidade desses avanços. “A
destituição da presidenta Dilma Rousseff deu início a um novo ciclo regressivo,
que acarreta perdas de direitos imediatas à população mais pobre e vulnerável e
o desmonte da rede de proteção social”, alertam.
“O
resultado será o de sempre: mais pobreza, mais desigualdade, mais injustiça
social. Se, por um lado, é certo que ganhos como os de escolaridade, formação
profissional, saneamento são difíceis de reverter, mantendo os níveis ainda
elevados de desigualdade, por outro, indicadores como a renda, o emprego e o
acesso a serviços, são voláteis e podem ser facilmente desconstituídos”,
concluem.
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