sexta-feira, 6 de outubro de 2017

PF: esquema de desmatamento no Pará era comandado por paranaenses

(Foto: Divulgação/PF-PA)

Os principais alvos da operação Anhangá Arara, da Polícia Federal (PF) são paranaenses. A operação, que investiga um esquema de desmatamento na Amazônia no Pará e apura um prejuízo ambiental de quase um bilhão de reais, foi desencadeada na quarta-feira (4) em três estados.
O madeireiro paranaense de União da Vitória Nelson da Silva, patriarca da família investigada, seria o líder do esquema.
Na Região Sul, os mandados expedidos pela Justiça Federal de Altamira, no Pará, foram cumpridos em residências dos investigados, em Curitiba e União da Vitória, cidade de origem da família no Paraná, além de Porto União, em Santa Catarina.
As atividades da Madeireira Silva & Suski deram origem à investigação. A empresa está em nome do filho de Nelson, o engenheiro florestal Daniel Antonio da Silva.
A Tropicalmad Indústria de Madeiras, com sede em União da Vitória, em nome da ex-esposa de Nelson, seria responsável pela exportação. Uma empresa chamada Nelson da Silva Indústria, era intermediária. A Madeireira Silva & Suski e a Nelson da Silva Indústria foram fechadas pela Justiça.
De acordo com a PF, madeiras nobres na Terra Indígena Cachoeira Seca, no oeste do Pará, eram extraídas de maneira ilegal pelas madeireiras investigadas e depois eram exportadas.
O escoamento era feito pelos portos de Paranaguá, no Paraná, Itajaí, em Santa Catarina, e de Belém, no Pará, depois que a carga passava por uma rota de fachada para dar impressão de legalidade.
A investigação aponta que grupo fraudava créditos florestais por meio de inserção de dados falsos no Sisflora – um sistema de controle de produtos florestais, além de utilizar Planos de Manejo Florestal que não eram cumpridos.
Um dos levados a depor na operação da PF é funcionário da Secretaria de Meio Ambiente do Pará. Ele é suspeito de fraudar guias florestais para legalizar a madeira.
O delegado responsável pela operação, Yuri Rodrigo de Oliveira, afirma que a empresa usada para a exportação tem sede no Paraná.
“O patriarca da família é responsável pela coordenação da extração ilegal e pelo escoamento da madeira para essas três empresas”, explica o delegado responsável pela operação, Yuri Rodrigo de Oliveira.
“A empresa base, a Silva & Suski, era responsável por receber toda madeira extraída e legalizar essa madeira aqui. Após a legalização, através da inserção de dados falsos no Sisflora, e através de fraude em créditos florestais, dava um teor legal à madeira, transmita a uma empresa intermediária – Nelson da Silva Indústria – e depois transmitia, já com teor legal, para a empresa Tropicalmad que era responsável pela exportação. Um esquema criminoso altamente arquitetado. Não são amadores”, afirma o delegado.
Além de Nelson, que seria o líder do esquema, foram ouvidos após condução coercitiva os funcionários dele, Carlos Esteves, e Egon Behrens.

Desmatamento 

A investigação da madeireira Silva e Suski teve origem em uma fiscalização do Ibama, em 2015. O instituto confiscou maquinário da madeireira dentro da reserva Cachoeira Seca. A empresa acumula quatro multas no Instituto, num total de R$ 611 mil.
Com o relatório do Ibama, a PF passou a investigar a operação. O delegado afirma que mesmo com a ação do Ibama, a empresa não parou de desmatar.
O principal alvo dos madeireiros é o ipê, uma madeira de alto valor comercial e facilmente identificada na floresta pela cor das flores.
(Foto: Divulgação/ISA)

O lucro com o ipê compensaria a abertura de centenas de quilômetros de estradas. Levantamento do Instituto Socioambiental mostra que a exploração ilegal de madeira foi responsável por abrir 892 quilômetros de vias clandestinas dentro da Cachoeira Seca ao longo dos últimos cinco anos.
O método de desmatamento consiste em abrir estradas e ir até as árvores, sem que grandes clareiras fiquem expostas ao registro de satélites e aeronaves.
“Após a fraude em créditos florestais mediante a inserção de dados falsos no sistema Sisflora, após o esquentamento da madeira, o grupo escoava a madeira para outras empresas, com destino final na exportação”, completa. Segundo ele, a madeira era vendida para países como Estados Unidos, Panamá, Argentina e países da Europa e Ásia.

Cachoeira Seca

O nome da operação, Anhangá Arara, significa proteção à morada dos índios. Habitada por um grupo indígena da etnia Arara, que se manteve isolado até 1987, Cachoeira Seca é a terra indígena do país com a maior taxa de desmatamento recente.
Somente no ano passado, foram desmatados 1.315 hectares, segundo Instituto Socioambiental. Não há um levantamento para estimar a área desmatada pelo grupo investigado na Operação Anhangá Arara.

Justiça Federal 

processo está em sigilo. A juíza federal Maria Carolina Valente do Carmo, da Vara Federal de Altamira, também determinou o bloqueio de bens dos investigados. Os valores não foram informados.
Uma perícia da Polícia Federal estima o dano ambiental em um valor aproximado de 574 milhões de reais, referentes a extração ilegal de madeira e mais 322 milhões em produtos florestais extraídos ou destruídos na abertura das áreas classificadas como ‘corte raso’.
No total, a Justiça Federal do Paraná expediu dez mandados de condução coercitiva – quando a pessoa é encaminhada para depor por força policial -, seis mandados de busca e apreensão e 11 de sequestro de bens e valores.

Defesa

A reportagem entrou em contato com o filho de Nelson da Silva, que não quis se pronunciar.
O advogado Maurício Dieter, que representa a família, afirmou que o inquérito está finalizado e que vai se manifestar em juízo, no devido processo legal.

Fonte: paranaportal.uol

Nenhum comentário:

Postar um comentário