sábado, 8 de julho de 2017

Artigo: Podemos, Álvaro Dias e a "revelha" política

Sem maquiagem, o partido e o pré-candidato apresentam-se apenas como o mesmo lado da moeda da política tradicional

Podemos é o rebatismo do PTN, fundado em 1945,
e que teve Jânio Quadros como seu principal 
expoente (foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
O novo partido 'Podemos' foi lançado no último sábado (1º) e tem como pré-candidato à Presidência da República o senador Álvaro Dias. Ambos os fatos apresentam a ideia da novidade para canalizar votos no processo eleitoral de 2018.
O nome 'Podemos' está diretamente ligado à campanha vitoriosa de Barack Obama em 2008. O democrata utilizava o slogan “yes, we can”: uma frase curta e de impacto, representando um sentimento de unidade e potência transformadora. O novo partido brasileiro, ao incorporar o slogan do ex-presidente dos Estados Unidos e o nome de um partido espanhol, deixa sua estratégia clara: pretende repetir a receita que deu certo nos Estados Unidos e, posteriormente, na Espanha com o partido de nome idêntico.
A estratégia está clara ao se ler a nota da sigla que apresenta uma proposta de aproximar a política da população que está cansada de corrupção e do distanciamento dos partidos tradicionais.Álvaro Dias reforça o discurso da novidade no lançamento da sigla e diz sobre a pré-candidatura: “quem chega para construir um partido político não pode chegar postulando. Porém, não tenho o direito também de se recusar a cumprir missões. Se houver convocações, haverá candidatura”.
As novidades acabam aqui: novo nome e pré-candidatura inédita. Analisando a essência de ambos, verificamos a revelha política em tempos de make up. Podemos é o rebatismo do PTN, fundado em 1945, e que teve o presidente Jânio Quadros como seu principal expoente. O partido foi extinto pelo regime militar em 1965 e refundado em 1995, tendo como expressão nacional o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta. Desde seu ressurgimento, a sigla é comandada pela família Abreu, o que afasta qualquer ideia de renovação no comando da agremiação e que possa representar alguma ruptura com a política tradicional.
E o senador? Desde a redemocratização, Álvaro Dias já transitou por diversas agremiações partidárias, como o PMDB, PP, PSDB e PV, e foi eleito senador do Paraná com mais de 70% dos votos. Hoje, está em um partido pequeno, não é conhecido nacionalmente, tem concorrentes de colégios eleitorais fortes e traz consigo um histórico desastroso como governador do Paraná (quando permitiu que professores fossem massacrados pela polícia militar).
Sem maquiagem, o partido e o pré-candidato apresentam-se apenas como o mesmo lado da moeda da política tradicional.
*Eduardo Faria Silva é advogado do Senge e Coordenador da Pós-graduação de Direito Constitucional e Democracia da Universidade Positivo


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