quarta-feira, 5 de julho de 2017

Após 30 anos, fundadores do Clube dos 13 veem futebol brasileiro pior do que em 1987

Flamengo ganhou a Copa União, torneio organizado pelo C13 em 1987

Há 30 anos os grandes clubes do país se rebelaram contra a CBF, fundaram uma entidade própria e organizaram de forma independente o Campeonato Brasileiro, batizado como Copa União. Arrumaram patrocinadores e negociaram a transmissão com a televisão. Assim, eles rompiam com "o velho poder"" e iniciavam uma revolução. Ao longo dos anos, o Clube dos 13 não manteve o fôlego mostrado em sua criação e se encerrou em 2011. Hoje, os protagonistas daquele movimento veem o futebol brasileiro e as agremiações piores e até mais atrasados do que em 1987.
A avaliação é de Carlos Miguel Aidar, Márcio Braga e Celso Grellet. Há 30 anos, eles eram: presidente do São Paulo, presidente do Flamengo e diretor de marketing do Clube dos 13, respectivamente. 
O trio teve papel decisivo para que o C13 saísse do plano das ideias e virasse realidade. Os dois primeiros conseguiram convencer os dirigentes de Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Grêmio, Internacional, Santos e Vasco que o movimento seria melhor para todos. Depois chamaram também o Bahia. O segundo buscou patrocinadores para bancar o torneio e a Globo para fazer a transmissão.
Hoje, eles sentem que muitos passos foram dados, mas infelizmente para trás.
"A CBF acaba de dar mais um golpe no futebol brasileiro, mudando o que fala da legislação, que determina a participação majoritária dos clubes, e ela dá peso para as federações. Portanto, voltou a situação anterior. Continuam roubando o futebol brasileiro de uma forma vil. E não vejo nenhuma reação. Ex-presidente da CBF preso. Outro escondido. E o atual nem pode sair do país. E os clubes não falam nada. A situação para retomar o poder é o grande momento. Não vejo acontecer nada", lamentou Márcio Braga
O cartola se refere a mudança que a CBF fez em seu estatuto, em 27 de março deste ano. Ela deu poder absoluto para as 27 federações estaduais escolherem quem será o presidente da entidade. Como? Deu a elas peso 3 na eleição. Já os 20 times da elite terão peso 2, enquanto os da Série B ficarão com peso 1. 
"O futebol brasileiro dá dois passos para frente e um para trás. Até hoje se fala em um embrião de uma liga de clubes, quando, na verdade, o movimento iniciou", disse Celso.
"Naquele ano, a gente era muito ambicioso. Nos já dizíamos: 'Olha, se criarmos um campeonato de nível, não vamos mais vender jogador. Vamos importar. Os estádios vão estar lotados. Os patrocínios vão aumentar. Direitos de televisão vão aumentar. Temos condição de fazer uma NBA no nosso futebol. Não vamos mais exportar jogadores'. Nada disso acabou virando. Não se organizou um campeonato nesses termos. Os clubes não assumiram o poder. As federações continuaram mandando e recentemente ganharam até mais poder", acrescentou Grellet.
Aidar vai além e vê a CBF até mais forte do que há 30 anos.
"A CBF é uma mina de ouro. Ela produz muito recurso se bem gerida. Tanto para o mal como para o bem. Ela produz. Veja os bons contratos que ela tem. Se você tivesse uma liga, todos esses recursos iriam para os clubes. A CBF iria cuidar da seleção e ponto. Como é na Itália, na Inglaterra, na Argentina.  Mas ela não quer essa mudança", disse.
Grellet relembrou que mesmo em 1987 era difícil fazer todos dirigentes entenderem o avanço que o Clube dos 13 representava. E que tinham brigas que indicavam que a organização local era tarefa árdua. Vale citar que a criação da entidade foi antes da Premier League e antes da Uefa dar início a era da Champions League. 
"Fomos pioneiros. Mas muitos tinham dificuldade para enxergar o futuro. É preciso fazer um estudo antropológico, sociológico para entender porque as pessoas que comandam o futebol brasileiro tem um nível intelectual tão baixo. A rivalidade burra acaba enfraquecendo os clubes e fortalecendo as entidades", disse Grellet.
Até quem não tinha envolvimento algum com o futebol, mas incentivou o início do Clube dos 13 vê as coisas piores. É o caso de Jorge Giganti, que em 1987 era presidente da Coca-Cola no Brasil e cujo apoio foi fundamental naquele momento.
"O início do Clube dos 13 e da Copa União fo um intento sério para mudar a estrutura medieval, de senhores feudais que existia na época no futebol. E está se repetindo. Não sou um conhecedor profundo do ambiente do futebol. Mas ao me ver nada mudou muito em 30 anos no Brasil.  Em 1987, além dos feudos, estava a monarquia. O rei estava na CBF. Eu nunca soube concretamente como a CBF engoliu o sapo no início, mas eu sabia que aquilo não ocorreria por muito tempo. E parece que acertei", disse Giganti. 
Dirigentes das principais equipes do país acertar a fundação do Clube dos 13, em 1987

Há possibilidade de mudança?
A resposta dos entrevistados foi afirmativa. Mas daí para virar realidade...
"Na realidade, os clubes até hoje não exercem a força que eles têm. Exemplo: os quatro grandes de São Paulo poderiam ir até a Federação Paulista e falar como querem o Estadual. Caso contrário, não entram em campo. Essa força os clubes não exercem. Não tem uma liderança política que leve isso para frente. Futebol brasileiro é maravilhoso dentro do campo. Fora é horroroso. As lideranças são péssimas. Marco Polo Del Nero é presidente da CBF. Não preciso dizer mais nada", lamentou Grellet.
"Não existe revolução sem clubes. E os clubes não me parecem muito preparados, evoluídos politicamente para isso. Essa safra de presidentes de clube é muito ruim, muito fraca, sem disposição política", resumiu Braga.
Fonte: ESPN/UOL


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