Por
Carlos Fernando - Como todos que defendem a
inegociável liberdade de imprensa, o necessário respeito à pluralidade de
ideias e a imprescindível civilidade no trato com o ser humano, fui solidário à
jornalista Míriam Leitão no episódio em que alega ter sido vítima de um ataque
verbal.
Independentemente de nossas preferências
político-partidárias, é sempre importante não perdermos o horizonte de que numa
democracia as batalhas devem ser travadas no campo das ideias, jamais no campo
dos insultos, ainda que neste caso a recíproca nunca tenha sido exatamente
verdadeira.
Míriam Leitão, mais do que uma jornalista, é o retrato esculpido da
brutalidade com que o jornalismo de guerra praticado pela mídia familiar
brasileira atua para destruir os seus adversários políticos.
Apesar disso, a violência, seja física ou psicológica, não deve e não
pode ser tolerada pela sociedade, sobretudo pela sua parcela que sempre
defendeu a preservação da dignidade do cidadão individual e dos direitos
humanos.
Mas o fato é que a sua versão do que ocorreu no voo 6237 da Avianca no
dia 3 de junho não durou sequer o tempo que precisou ficar na aeronave na
viagem de Brasília ao Rio de Janeiro.
Revoltados com a descrição dos “fatos” narrados pela jornalista, vários
passageiros que estavam no voo já desmentiram as suas “verdades” com a mesma
facilidade com que é possível desconstruir as suas previsões econômicas.
É constrangedor (para não dizermos outra coisa) que uma
pessoa que tem como dever profissional relatar os fatos com imparcialidade, se
preste ao serviço de mentir em público com tanta desenvoltura com o único
propósito de aprofundar ainda mais o clima de ódio que ela mesma, e o seu
patrão, tanto ajudaram a criar.
O curioso é que em determinado momento do seu artigo/desabafo, Míriam
conta que a chamaram de “terrorista”. Neste ponto, diz ela:
“Pensei na ironia.
Foi ‘terrorista’ a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos
19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia,
a mesma palavra era lançada contra mim.”.
Não, querida, essa não é a grande ironia dessa história. Ironia mesmo é
você ter sido presa pela ditadura militar e hoje, tantas décadas depois, você
servir com tanta fidelidade canina à empresa que defendeu e patrocinou os seus
torturadores.
Mas ironias à parte, confirmado o desmentido na sua forma, já não me
sinto na obrigação de ser solidário a Míriam Leitão.
Guardada as devidas proporções, solidarizar-se com essa mulher nas
condições de uma mentira, é caminhar para a mesma decepção sentida pelo pato
Miguel Reale em relação ao seu PSDB.
Seja como for, no fim das contas Míriam Leitão se superou: além de uma
entusiasta manipuladora dos dados econômicos nacionais e incorrigível vedete da
oligarquia midiática que destrói a democracia brasileira, agora também já pode
ser vista como uma requintada mentirosa do cotidiano falso-burguês.
Seu público deve estar adorando, afinal, a hipocrisia está a bordo.
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