O depoimento de Renato Duque a Sérgio Moro não tem nenhuma lógica senão a de um
homem que vê em acusar a única chance de sair da cadeira.
Diz
que foi indicado (genericamente) para compor a diretoria da Petrobras, sem
especificar por quem ou porque.
Diz
que nunca participou do famoso acordo que previa a transferência de valores ao
PT, que, segundo ele, era solicitado pelo partido como doação diretamente às
empresas. Neste caso, lógico, alguém teria – do lado do partido ou do lado das
empresas, de dizer a ele que tinha sido pedido ou que tinha sido dado.
Diz
que doar ou não doar não afetava o resultado da licitação. “Não precisava
chegar na empresa e dizer que tinha que contribuir, até porque não tinha que
contribuir, não era algo obrigatório. Ganhou a licitação, vai levar a
licitação”, disse ele.
Ué,
então não tinha propina para ganhar licitação?
E os
milhões que ele e seu auxiliar, Pedro Barusco, vieram então de simples
generosidade das empresas, sem contrapartidas? “Eu nunca pedi”disse, “eu só
aceitei”. “Não havia necessidade de pagar”, assegura.
– Se alguém se recusasse a pagar, não havia
nenhuma penalidade.
Temos
então que as empresas davam porque eram boazinhas e deram 20 milhões de euros
espontaneamente a Duque sem nada em troca. Até Sérgio Moro estranhou: “mas as
empresas davam em troca de quê?”.
Mas o
mais incrível é o fato de que, mais uma vez, a acusação a Lula é na simplória
base do “eu tenho certeza de que ele sabia”, apoiada em histórias de que”Lula
tinha muito conhecimento sobre a questão das sondas e fez várias perguntas
sobre isso”. O detalhe, porém, é que ele diz que todos os encontros se deram
depois de ele ter sido demitido da Petrobras, em 2012. O que levaria Lula, se
tivesse interesse em “desenrolar” algo neste assunto, a tratar com um
ex-diretor.
O
último encontro é especialmente inacreditável. Lula, nas próprias palavras de
Duque, teria dito que Dilma estava preocupada com boatos de que um ex-diretor
tinha contas na Suíça, abastecidas com dinheiro da SBM, uma armadora de navios.
Ora,
se sua relação era com Vaccari, porque seria necessário Lula perguntar? Lula
iria tratar, quando a Lava Jato já estava em curso, pessoalmente deste assunto
com alguém com quem não tinha quase nenhuma intimidade?
Acusar
Lula virou a tábua de salvação dos náufragos da Lava Jato. A elas, todos se
agarram mas sem conseguir apontar sequer um dado concreto, senão que “teriam se
encontrado” com ele e “teriam tratado” disso.
O
que, na vara do Dr. Sérgio Moro, é “prova suficiente”.
Por
Fernando Brito do Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário