A matéria, hoje, no Congresso em Foco, na qual o ex-diretor da Odebrecht João Nogueira diz que o empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo,
fez ameaças a Dilma Rousseff para tentar frear as investigações da Operação
Lava Jato, é mais um sinal de que há, entre a empresa e o PT uma relação de
ódio, não de cumplicidade como se transmitiu à opinião pública.
Segundo o delator, Marcelo sinalizou que revelaria documentos sobre
repasses ao caixa dois da campanha de 2014, na qual Dilma e Temer se
reelegeram. “Ela cai, eu caio”, teria dito o empresário em mensagem de celular
em poder dos investigadores.
Ora, Marcelo foi preso quase um ano antes da deposição de Dilma e,
portanto, a mensagem é anterior á sua prisão, pois não poderia tê-la mandado
desde o cárcere. A ordem do raciocínio, pois, é inversa: “eu caio, ela cai”.
Na versão do delator, o herdeiro da Odebrecht queria que Dilma
interferisse no caso, induzindo o STF a afastar o caso de Sérgio Moro. E está
claro que que se irritou com o fato de que ela não o fez. Ou seja, Dilma não
tomou – e quem a conhece sabe que não o faria, qualquer iniciativa para
obstruir a Justiça, mesmo que uma justiça caolha e autoritária como a que se
faz na Lava Jato.
A pergunta – que as fartas contribuições aos adversários da
ex-presidente (o interno, Temer, e o externo, Aécio) só fazem tornar mais
instigante – é o quanto as delações, que vieram após a deposição de Dilma,
contêm de vingança e de retaliação a quem, na visão deles, poderia ter travado
o processo que os incriminou.
Outras indagações ocorrem – aliás, só não ocorrem, aparentemente, à
mídia e aos procuradores e ao juiz Moro – se havia uma relação de promiscuidade
financeira pesada, da ordem de, pelo menos, dezenas de milhões de dólares, é
que não houvesse, para o mesmo fim, um canal de comunicação do Michel Temer.
A Odebrecht vai, cada vez mais, assemelhando -se a um papel de Cunha-2:
formalmente, uma aliada; na prática, uma conspiradora que saiu tosquiada de
todo este processo e, agora, dá seu abraço de afogado a seus desafetos.
Ou, no mínimo, se presta a boneco de ventríloquo, que articula,
falsamente, aquilo que seus manipuladores querem que seja dito.
Por Fernando Brito do Tijolaço
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