O esforço que os golpistas fazem para se desmoralizar com atitudes
ridículas é insano. Quando você acha que o limite já chegou, sempre aparecem
coisas novas.
Esta questão do Caixa 2, por exemplo.
Enquanto
as acusações e as denúncias se restringiam ao PT, o Caixa 2 era uma coisa. Era
prova inequívoca de corrupção, de ladroeira etc etc.
Agora que as denúncias alcançam Serra, Aécio e
gente do gênero, já não é bem assim.
Há um Caixa 2 do bem e há um Caixa 2 do mal. Isto
é, pelo menos, o que a direita plutocrata quer fazer que a sociedade engula. E
aqui tenho que invocar, mais uma vez, Wellington: quem acredita nisso acredita
em tudo.
Até algum tempo atrás, FHC, com seu moralismo
professoral e cínico, investia contra o Caixa 2. Confiante na falta de memória
das pessoas, ele passou agora a distinguir entre as alegadas duas modalidades
de Caixa 2.
Uma seria destinada a financiar campanhas, pura e
simplesmente. A outra seria para o enriquecimento dos beneficiados.
No mundo dos sonhos dos golpistas, no fim das
contas teríamos dois tipos: o Caixa 2 do PT, criminoso, sujo, maligno. E o
Caixa 2 dos demais, um dinheiro límpido, perfumado.
Mas, de volta à vida real, como você distingue as
duas coisas? Os 23 milhões de Serra no exterior, por exemplo: como você pode
saber se todo aquele dinheiro foi utilizado em campanha ou se parte dele foi
desviada para fins pessoais?
As doações a Aécio na campanha de 2014: foram
porque o Mineirinho é um cara legal ou porque, no caso de vitória dele, os
doadores enxergavam boas perspectivas de lucrar com o que tinham dado?
A Justiça parece ávida por comprar a estranha tese
da dupla personalidade do Caixa 2, o que não surpreende. O primeiro da fila é,
evidentemente, Gilmar. Temos, de acordo com ele, que “desmistificar” o Caixa 2.
Por desmistificar, entendamos: temos que livrar a
cara dos nossos amigos e ferrar os inimigos.
O brasileiro teria que ser muito inocente, muito
crédulo para comprar essa ideia estapafúrdia, oportuna e hipócrita.
Mas talvez nossa desigualdade derive mesmo disso:
de sermos crédulos, inocentes — perfeitos para ser levados no papo.
Por Paulo Nogueira do DCM
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