PROCURADORA DO RS CULPA VÍTIMAS DA BOATE KISS POR ESTAREM BÊBADAS E REVOLTA FAMILIARES
Uma procuradora de Santa Maria (RS)
causou revolta em familiares das vítimas do incêndio na boate Kiss, que matou
242 pessoas em janeiro de 2013, ao sugerir que a embriaguez de algumas das
vítimas colaborou para as suas mortes.
No documento,
que contesta na Justiça um pedido de indenização por danos morais feito pela
família de um dos jovens mortos na tragédia, a
procuradora Mirela Marquezan ressalta: "Certamente
diferentes fatores contribuíram para esta diferença de condutas e desfechos,
sendo, um deles, o estado de sobriedade ou de embriaguez de cada um dos
frequentadores do estabelecimento, fato que deve ser bem analisado em cada caso
concreto".
O trecho foi tornado público pelo advogado Luiz
Fernando Scherer Smaniotto, representante de alguns familiares de
vítimas.
Silva afirma que já tem uma reunião marcada com o novo prefeito da cidade,
Jorge Pozzobom (PSDB), na qual tratará do assunto. Além disso, diz que entrará
na Justiça contra a procuradora. "Meu filho estava na porta da boate,
estava com o meu carro e não tinha uma gota de álcool no sangue, conforme a
perícia no corpo. Qual argumento da procuradora para isso? Eu, como pai,
gostaria que ele estivesse bêbado e drogado, para morrer numa boa, sem noção da
realidade, e não sofrendo como aconteceu."
A reportagem tentou, neste sábado (25), contato com a procuradora Mirela
Marquezan, mas não obteve sucesso. Entretanto, ainda nessa sexta, a Prefeitura
de Santa Maria emitiu nota, explicando que "as condutas adotadas foram
opções técnicas feitas pelas chefias institucionais que geriam o município na
época". E prosseguiu: "A prefeitura foi renovada nas urnas e todos,
inclusive as diretamente envolvidas com essa lamentável tragédia, são
testemunhas da grande vontade de mudar que tem impulsionado a nossa dedicação
diária às causas do município".
Mais adiante, a administração destaca: "A nós, hoje, cabe acarinhar e
acalantar essas pessoas que se sentiam órfãs frente ao poder municipal em um
dos momentos mais difíceis que um ser humano é capaz de enfrentar. O que
realmente importa é que essas pessoas saibam que podem contar conosco para
ajudar, para compreender e, principalmente, para aprender. Esse é o nosso
compromisso, isso é renovar".
A procuradora
diz na contestação: "Apesar da comoção generalizada e luto coletivo
ocorridos com a tragédia da boate Kiss, e mesmo podendo parecer insensível
mencionar a possibilidade de ocorrência de culpa das próprias vítimas; não há
como ignorar o fato de que diversas pessoas que estavam em frente ao palco,
onde começou o incêndio, conseguiram sair do local; ao passo que
outras tantas, que estavam muito mais próximas à porta de saída, não
abandonaram o recinto".
A citação causou
indignação nos familiares de mortos e sobreviventes. "Quero saber em
qual técnica ela se baseou para escrever isso. Primeiro, ela não é médica.
Segundo, não é bombeiro para saber se as pessoas podiam ou não sair da boate.
Ela não tem conhecimento técnico para usar esse argumento", afirma o
presidente da AVTSM (Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da
Tragédia de Santa Maria), Sérgio Silva.
FONTE: UOL
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