Defesas de Lula
e Mercadante criticam tentativa de acusação por obstrução
Tanto a defesa do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, quanto o ex-ministro Aloizio Mercadante mostraram-se
surpresos sobre o inquérito da Polícia Federal, divulgado nesta segunda-feira
(20), por suposta obstrução da Justiça.
O documento de mais de 40 páginas foi
encaminhado ao ministro relator da Lava Jato, Edson Fachin, do Supremo Tribunal
Federal (STF), recomendando a abertura de uma denúncia contra Lula, Mercadante
e também a ex-presidente Dilma Rousseff, com base apenas na delação de Delcídio
do Amaral.
Uma das frentes da investigação
coincide com outra, de igual foco, na Justiça Federal de Brasília, na qual, na
última semana, o ex-senador Delcídio do Amaral admitiu a responsabilidade, e
seu assessor, Diogo Ferreira, desmentiu a tese do ex-parlamentar.
O delegado Marlon Oliveira Cajado dos
Santos informou haver indícios contra os investigados, mas sequer os indiciou.
Segundo a defesa de Lula, a medida tomada pelo integrante da força-tarefa da
Lava Jato no Supremo "é desprovida de qualquer fundamento jurídico".
Lembrando, ainda, que na última
semana, o ministro Celso de Mello decidiu que a nomeação de Moreira Franco por
Michel Temer não poderia se caracterizar como obstrução de Justiça, os
advogados de Lula apontam que o inquérito vai na contramão da decisão do STF.
Isso porque, na decisão, Celso de
Mello afirmou que "a investidura de qualquer pessoa no cargo de Ministro
de Estado não representa obstáculo algum a atos de persecução penal que contra
ela venham eventualmente a ser promovidos perante o seu juiz natural, que, por
efeito do que determina a própria Constituição (CF, art. 102, I, alínea “c”), é
o Supremo Tribunal Federal".
A investigação da PF, divulgada nesta
segunda, entretanto é justamente apontar que a nomeação de ministros para o
Superior Tribunal de Justiça, Francisco Falcão e Marcelo Navarro, tinha este
objetivo de obstruir a Lava Jato.
Para Cristiando Zanin Martins,
"esse entendimento, no entanto, não vale para Lula". Recordou que o
ex-presidente foi impedido pelo Supremo, por decisão de Gilmar Mendes, de
assumir o cargo de Ministro de Estado, durante o governo Dilma Rousseff, em
março do último ano.
"Agora um agente policial
pretende transformar em crime um ato de nomeação que cabia privativamente à
então Presidente da República Dilma Rousseff. Para chegar a tal conclusão, o
agente público recorreu à 'mídia especializada em política', mas deixou de apresentar
qualquer fundamento jurídico para sua manifestação", manifestou o
advogado.
Também em resposta, o ex-ministro
Aloizio Mercadante disse que recebeu "com surpresa" a manifestação do
delegado, no trecho que trata de conversa de Mercadante com o assessor do
ex-senador, Eduardo Marzagão.
"Os diálogos não retratam
qualquer tentativa de obstrução da Justiça, mas um gesto de apoio pessoal. Nas
conversas, Mercadante diz expressamente que não interferiria na estratégia
jurídica de Delcídio e nem na decisão por eventual delação", informou o
ex-ministro, em nota.
Segundo ele, o diálogo mostra que
Mercadante apenas sugeriu que a defesa discutisse sobre a prisão de Delcídio
junto a senadores, "com absoluta legalidade e transparência, uma vez que
acreditava na ausência dos requisitos para a detenção".
"Mercadante reafirma que jamais
intercedeu junto a qualquer autoridade para tratar deste tema. Reitera que
confia plenamente na Justiça e no Ministério Público Federal, colocando-se,
como sempre, à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos
necessários", concluiu.
"O ato do Delegado Federal
Marlon Cajado se soma a diversas outras iniciativas de agentes públicos que
perseguem Lula por meio do uso indevido da lei e dos procedimentos jurídicos,
prática internacionalmente conhecida como 'lawfare'", finalizou Zanin
Martins.
JORNAL
GGN
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